A Casa triângulo anuncia seu novo representado: Zé Carlos Garcia. As esculturas do artista se apresentam como entes insólitos que podem tomar a forma de insetos imaginários, uma vez que resultam de uma combinação de membros de diferentes espécies, ou ainda da mescla de plumas e partes de mobiliário de madeira. Dessa junção originam-se híbridos que, além de conservar os significados das partes que os compõem, geram uma curiosidade mórbida em relação à sua natureza. Garcia parece assim evidenciar certa perversidade do público, refém, entre estranhamento e fascínio, de seu próprio voyeurismo diante de corpos dilacerados, por mais fictícios que sejam.
A possibilidade de recriar o mundo através de formas inicialmente estabelecidas pela estética, isto é, não propostas como “dadas” pela natureza, impeliu-o a uma linha de pesquisa que levou à construção escultural de “pássaros”, à redefinição de “insetos” e aos “bustos” esculpidos em pedras sedimentares que não permitem uma forma definida.
O simbolismo dos discursos de poder que marcam a construção da história da humanidade também está presente na pesquisa de Garcia, como nos “bustos” com sua noção da efemeridade e ruína, e nas bandeiras de crinas de cavalo e nas fincas de madeira que nos remetem aos mastros, às esculturas equestres e aos obeliscos, marcos de conquista e de narrativas de territórios.
A “construção” do seu trabalho origina-se de corpos existentes, às vezes mortos, estáticos, encontrados, naturais ou artificiais, e gera objetos – seres – sob o signo da escultura. Peças e fragmentos de móveis antigos associados a penas, plumas de Carnaval e crinas de cavalo são organizados para criar híbridos com poder estético e alegórico.
Seus trabalhos escultóricos caminham na contramão das obras criadas para a posteridade e executadas em materiais consistentes, dialogando com a dimensão da eternidade e da ruína, com a construção de um ideário e a perda do poder.
O artista sugere, portanto, uma discussão com o corpo como peça central – seja animal, humano ou escultural – e a experiência como ação voluntária que altera a paisagem, passando por constante mudança morfológica, também através da adição de novos elementos.