Rostos anônimos em proporções gigantescas esculpidos na parede compõem a primeira obra com a qual o espectador se depara ao entrar na Usina Luis Maluf. Trata-se de uma das obras que integram a exposição “Alquimia”, do artista português Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils, que abre ao público a partir desta quinta-feira (19.10).
Considerado experimentalista, pois trabalha diversas linguagens, Vhils desenvolveu o projeto “Scratching the Surface”, ou arranhando a superfície, na qual o artista traz uma inovadora técnica de escultura em baixo-relevo e que constitui a base dessa técnica aplicada na obra da entrada.
Sendo a destruição o principal método construtivo do artista, outras dezenas de obras trazem novas faces, ora feitas em portas de madeira, ora feitas em billboard, que formam uma multidão de desconhecidos, unidos por singularidades, mas sempre plurais, como explica a curadora Julia Flamingo. “É, por vezes, no meio da aglutinação de pessoas onde nos sentimos mais sozinhos, mas também é no mar de indivíduos unidos pela mesma fantasia onde mergulhamos na onda prazerosa da presença e da euforia. Estar em meio à multidão é confrontar o silêncio, é lutar contra o apagamento. São imagens de poderosos momentos da história, em que indivíduos pensam coletivamente sobre seu futuro, que Vhils traz para esta exposição. Episódios disruptivos que reafirmam a singularidade de um grupo, um povo ou uma cidade.”
O título da exposição retrata o “sentimento inexplicável e mágico gerado na união entre pessoas, e também os processos químicos, de ligação e troca de energia, que permeiam as compatibilidades dos encontros. Reações químicas também fazem parte do processo de produção das obras de Vhils, que usa substâncias como ácidos e corrosivos para enferrujar e desmanchar as camadas superficiais das imagens com as quais trabalha, fazendo surgir sedimentos mais profundos”, completa Julia.
As articulações políticas e as palavras de ordem de diferentes manifestações públicas não estão em primeiro plano nesta exposição, ao contrário, explica a curadora: “O povo que inicialmente ocupa as ruas da cidade e vocaliza desejos em uníssono, vê essa potência se dissipar, o sonho se esvair. A multidão torna-se massa, a individualidade é sobreposta pela sociedade de consumo, a universalidade é arrebatada pela globalização. Nas obras de Vhils, registros de luta por utopias tornam-se fantasmas em imagens não identificadas, decompostas e desgastadas. Elas representam ao mesmo tempo a esperança e a falência”, finaliza Julia.
Usina Luis Maluf – R. Brigadeiro Galvão, 996, Barra Funda, São Paulo. Até 20 de dezembro.