A galeria Millan abre neste sábado (05.10) a exposição individual “Vigília”, de David Almeida, que apresenta um conjunto de obras inéditas, nas quais explora formatos e suportes novos. São pinturas sobre tela, madeira e objetos, além de um grande painel que cobre todo o teto do espaço expositivo.
“Vigília” reúne os desdobramentos mais recentes da pesquisa de Almeida e tem como ponto de partida uma viagem às cidades mineiras de Ouro Preto, Congonhas e Mariana. Nesses trabalhos, o artista se debruça sobre a tradição pictórica brasileira e o modo como ocorreu a adaptação de modelos e visualidades europeias nas condições locais. Conforme escreve Mateus Nunes no texto da exposição, o que move Almeida é “o fascínio de uma sempre híbrida tradição pictórica brasileira, incategorizável por sua contaminação, vulnerável por sua impureza, indomável por seu fervor”.
Nesse processo, o artista também se dedicou a assimilar técnicas e materiais utilizados na produção do século 18, como a policromia sacra, a têmpera ovo, o bolo armênio e a goma laca. Sua intenção, no entanto, não se limita à mera reprodução da visualidade barroca. Almeida isola e retrabalha determinados elementos comuns às pinturas de igrejas e capelas, de trabalhos devocionais e de ex-votos, de modo que rocalhas, florões, volutas e outras formas da arquitetura surgem em suas pinturas como vultos.
Para ele, interessa a criação artística como um trabalho diligente, uma atividade de penitência. Portanto, mais do que as pinturas das naves e dos espaços ostensivos das igrejas e capelas barrocas, as obras do artista referenciam as pinturas das sacristias – espaços reclusos, restrito aos “trabalhadores” das igrejas.
“Ao contrário das pinturas presentes no salão de culto, as sacristias eram compostas por pinturas de santos penitentes”, explica Almeida. “Esses personagens parecem habitar paisagens ermas cujo peso e penumbra arriscam esmagar o espectador”, completa. Essa sensação é transmitida no grande painel que se estende por todo o teto da galeria, composto por cinco pinturas sobre madeira e suspenso a uma altura semelhante àquela do pé direito das sacristias.
Millan – Rua Fradique Coutinho, 1.430, Pinheiros, São Paulo, SP.