Aos 23 anos, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, uniu-se à luta armada contra a ditadura militar. A atriz e criadora Sara Antunes mergulhou na história da guerrilheira, explorando sua prisão, tortura e exílio, que terminou em suicídio na Alemanha, em 1976. As cartas trocadas entre a guerrilheira e sua mãe, Clélia Lara Barcelos, durante o período de prisão e exílio resultam no espetáculo “Dora”, que estreia no dia 27 de setembro, sexta-feira, às 21h30, no Sesc Ipiranga.
Com direção, dramaturgia e atuação daprópria Sara, a peça é uma continuação da pesquisa iniciada em 2016 e recria um espaço de comunicação entre o confinamento e a busca pela utopia, explorando as complexidades das relações humanas em tempos de opressão.
“Dora foi uma figura feminina política no âmbito pessoal, porque o pessoal é político, como diz Simone de Beauvoir, e também na esfera pública. Ela entrou na faculdade de medicina em terceiro lugar, em uma época em que 90% dos alunos do curso eram homens. Envolveu-se politicamente nas organizações, foi presa, exilada e denunciou a ditadura. Foi muito amiga e parceira de casa de Dilma Rousseff. É uma figura que entregou o corpo inteiro à luta que acreditava e quero mais do que contar sua morte, desejo trazê-la para vida”, conta Sara.
Em um espaço que combina a sala de anatomia de uma estudante de medicina com o corpo de uma guerrilheira durante a ditadura, a obra explora os escritos autênticos de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, estabelecendo um diálogo sensorial e íntimo entre Dora e sua mãe. O espetáculo ressoa a história do Brasil nos 1960, anos do golpe militar, criando um espaço de reflexão sobre a luta pela liberdade e a preservação da memória daqueles que resistiram à injustiça.
“O cenário tem aspectos singulares, porque resolvi reunir os papeis, as cartas e os documentos coletados nesses anos todos numa espécie de instalação. Sempre senti que os documentos da Dora, quando eu estive durante todos esses anos envolvida em outros projetos, ficavam me olhando, me indagando, numa espécie de ‘quando você vai colocar enfim pra estrear?’ Chegou a hora e eu literalmente quero colocá-los em cena” explica Sara.
A peça propõe uma reflexão sobre a jornada que levou Dora à luta política, transformando o palco em um espaço dinâmico onde sua presença se faz viva, e explora resistência e memória. A trilha sonora inclui Tropicália, Violeta Parra e Torquato Neto, canções que marcaram a época e que Dora ouvia e até recomendava.
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP.