Por Flávia Barbosa
Se você é fã dos filmes da Marvel então já sabe como proceder no final dessa série. No último episódio não ouse desligar e ir fazer outra coisa! Espere os créditos subirem calmamente e seja pego de surpresa em uma cena que dura segundos, mas que muda bastante a perspectiva de como tudo foi entendido até agora. Confesso que fiquei tão chocada que voltei várias vezes a cena para poder digerir tudo. Então senhoras e senhores, vamos novamente falar de um seriado escondido, dessa vez na HBO, dessas series que não podemos deixar passar, que toca em assuntos tão profundos e as vezes bizarros, que nos faz querer assistir um episódio atrás do outro.
“Objetos Cortantes” é uma serie adaptada do livro de Gillian Flynn, dirigida por Jean-Marc Vallée (“Big Little Lies”) e estrelada e produzida pela icônica Amy Adams. A história gira em torno de Camille (Amy Adams), uma repórter que acabou de sair de um hospital psiquiátrico devido há anos de violência auto infligida, que, forçada por seu chefe por quem nutre uma relação não só profissional, mas também fraternal, retorna à sua cidade natal (seus moradores são pessoas que mais parecem viver num passado eterno, estacionadas em uma realidade antiga, preconceituosa e muito fofoqueira) para investigar o assassinato de uma adolescente e o desaparecimento de outra.
A investigação a leva de volta à casa em que viveu sua infância, onde fica sob o olho crítico da sua mãe Adora (Patricia Clarkson), uma socialite preocupada com as aparências, que obriga Camille a enfrentar seus demônios pessoais. A repórter raramente entra em contato com sua mãe, padrasto e mal conhece sua meia irmã, Amma (Eliza Scanlen), uma linda e misteriosa menina de 13 anos, que durante o dia vive a vida de uma adolescente perfeita aos olhos dos pais, mas à noite longe de casa e com seus “amigos” se mostra uma pessoa totalmente diferente.
Camille acaba presa em uma trama, um enigma psicológico de seu passado quando se identifica com as vítimas. O retorno ao lar desperta em Camille lembranças desagradáveis da própria adolescência, que ela precisará enfrentar se quiser sobreviver.
Não pense em “Objetos Cortantes” como uma simples série jornalística-policial. Apesar do seu enredo girar em torno de assassinatos e sumiços, que saem da caixinha comum ao assassinato de mulheres e meninas (nenhuma das duas é abusada sexualmente), o ponto central da história é a relação de Camille, Adora e Amma, suas personalidades, defeitos e traumas. Na verdade, se trata da construção de personagens e também de reviravoltas, a série é construída em camadas densas, que caem uma sob a outra, em um estilo chamado de slow-burn o que pode não agradar a todos, mas na minha humilde opinião, foi tudo muito bem construído. É muito mais sobre o que se sente, se pensa, se sujeita, do que o que se faz, o que acontece ou que se fala.
A série que conta com elenco, fotografia e trilha sonora impecáveis, conseguiu um grande feito! A música é uma parte muito importante e a série garantiu os direitos de quatro músicas do Led Zeppelin. A banda que é notoriamente conhecida por ser difícil de conseguir os direitos. A supervisora de música Susan Jacobs declarou: “Nós estávamos tentando explicar a importância do que a música realmente faz e como ela desempenha um papel crucial na vida dessa menina” e “também a ideia de escapismo da música”. A banda gostou da ideia e aprovou o uso de suas músicas. A música de Led Zeppelin acompanha simbolicamente a vida de Camille durante a série.
Mas infelizmente o presidente da HBO, Casey Bloys, garantiu que “Objetos Cortantes” será mesmo uma série limitada e que não vai rolar uma 2ª temporada. Bloys explica que a produção trata de um personagem muito sombrio, um material muito obscuro. “Amy Adams não quer mais viver nessa personagem e eu não posso culpá-la, é muito para uma atriz, então não há planos para uma segunda temporada. Estamos muito felizes em viver isso como uma série limitada”. Então, vamos aproveitar esse finzinho de recesso e nos jogar nessa jornada angustiante de uma menina que sobreviveu “apesar de”.
Como diria o sábio: “todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.