Por Flávia Barbosa
Dizem que essa é uma série escondida na Netflix, mas é só dar uma procuradinha que está lá. Uma das melhores que assisti, e bem pertinente ser falada nesse momento.
A série conta a história baseada em fatos reais de uma jovem que sofreu um estupro dentro de seu apartamento. Porém, os detetives estão mais interessados em encerrar logo o caso. A vítima, Mary Adler (Kaitlyn Denver) está extremamente confusa, desorientada e tem que responder as mesmas perguntas mil vezes e acaba gerando incongruências nos seus relatos.
Ela é desacreditada desde o começo. Os detetives responsáveis (homens, claro) começam a se ligar muito mais ao fato de que o depoimento às vezes tem informações diferentes, e preferem levar em conta o background de Marie: órfã, no sistema desde os três anos, viveu em vários lares abusivos e sempre teve seu comportamento questionado.
Os detetives simplesmente não acreditam nela, e a forçam a refazer seu depoimento declarando que mentiu, que nada havia acontecido e só tinha feito aquilo para chamar atenção. Marie, exaurida, assina o depoimento. Tendo que desmentir tudo o que havia declarado anteriormente, seus amigos e conhecidos se revoltam e a culpam. A história vai parar na internet e viraliza. Sua vida é devastada. Nem as pessoas mais próximas acreditam nela. Soa familiar?
No Brasil, a cada 8 minutos uma mulher é vítima de estupro. E o que acontece é o de praxe: vítimas desacreditadas no contexto dessa cultura machista. Quem se lembra do caso Mariana Ferrer (2018) onde ouvimos à expressão “estupro culposo”?
Em 2023/24 temos o caso Daniel Alves que até foi a julgamento, mas ele teve ajuda de pessoas influentes. Daniel chegou a dar 5 versões diferentes para o caso, foi condenado, porém, saiu cantando vitória.
Homens ricos, brancos e influentes também se livram facilmente de qualquer acusação. Na história de Jeffrey Epstein, que recrutava menores desfavorecidas para fazer “massagem” em um clã seleto e muito bem escolhido, que mais parecia um clube de velhos ricos depravados. Esse clubinho contava com nomes como Bill Clinton, Donald Trump, Woody Allen, Julio Iglesias e ninguém mais ninguém menos do que o príncipe Andrew, irmão do rei Charles III. Todos negam envolvimento veementemente.
Muitas vítimas acabam por não prestar queixa pois após terem sofrido tamanho trauma, ainda têm que passar por toda a violência e corrupção que encontram na polícia. Na série “Unbelievable” (ou “Inacreditável”), a única chance que Marie tem de provar a verdade é quando duas detetives (mulheres, claro) esbarram em casos com o mesmo Modus Operandi e se dão conta que estão lidando com um criminoso em série. Elas dedicam 24 horas de seu tempo investigando e reunindo provas até que vários casos se cruzam, inclusive o de Marie.
As detetives Grace Rasmussen (Toni Colette) e Kerry Duvall (Merritt Wever) dão o sangue. As atrizes? Impecáveis.
Essa é uma serie curta de oito episódios, ótima para fazer pensar. Especialmente agora com a criminalização do aborto em pauta. Mulheres, fiquem atentas. Deem as mãos. Lutem pelos seus direitos.