A peça “Chef Psi – Como Comer Como Como” propõe uma reflexão sobre a conexão entre fome, alimentação e identidade, com foco na trajetória das mulheres. Idealizada e protagonizada por Maíra Maciel, e dirigida por Tati Caltabiano, do Coletivo Petit Comité, a peça é inspirada nas experiências pessoais da atriz, que convive com anorexia nervosa desde a adolescência. Sua vivência como psiquiatra e psicanalista enriquece a narrativa, trazendo à tona histórias de pacientes que enfrentam pressões relacionadas à imagem corporal. A estreia será no dia 6 de dezembro, no Sesc Belenzinho, com curta temporada até 15 de dezembro, em apresentações às sextas e sábados, às 21h30, e nos domingos, às 18h30.
“Quando Maíra me apresentou o texto, o que podemos chamar de um primeiro tratamento, ali já estava apontado uma obsessão da Chef Psi pela cultura japonesa como um ideal de perfeição: a culinária, o zen, os rituais de harakiri, os samurais. A proposta de encenação então parte daí, da pesquisa dessas referências e de como trazê-las para o corpo e para a cena. Mergulhamos em um treinamento de educação corporal japonesa com a preparadora corporal Renata Asato e fomos nos aproximando de uma proposta mais ritualística, entendendo também como a anorexia está relacionada ao controle, ao minimalismo e ao perfeccionismo”, explica Tati, destacando a relação do propósito do espetáculo de ampliar o olhar para questões sociais e culturais em relação à comida.
“A peça aborda os transtornos alimentares de forma tanto metafórica quanto literal, expondo desde uma perspectiva de quem vive de dentro o problema, mais do que como uma crítica de fora. Mostra, a partir da experiência da mulher anoréxica, os efeitos devastadores de uma cultura que objetifica a mulher e que coloca sempre a referência do corpo magro como o ideal, os limites mortíferos em que esse ideal pode subjugar muitas mulheres”, afirma Maíra.
O espetáculo explora uma cultura que exalta o controle e a magreza, onde a alimentação se torna uma arena de disputas internas e sociais. Ao abordar temas como objetificação e silenciamento feminino, o espetáculo critica os ideais impostos que aprisionam mulheres e impactam profundamente suas relações com o corpo e o desejo.
A personagem Chef Psi utiliza o ato de “cortar” – tanto alimentos quanto discursos – como metáfora, desafiando e questionando as narrativas opressivas que moldam sua identidade. Ao criar um prato, ela compartilha com o público sua “culinária das emoções”, navegando entre controle e excesso para refletir a tensão entre corpo e mente.
Inspirada pelo Teatro Nô, uma forma clássica de arte japonesa que valoriza a precisão dos movimentos, a montagem combina momentos de formalidade e ritualização com lapsos de descontrole, refletindo a luta da personagem pela busca da perfeição. Com preparação corporal de Renata, a peça incorpora técnicas de educação corporal japonesa na exploração dos conflitos internos da protagonista.
A montagem é um convite para refletir sobre os impactos da cultura de controle e perfeição na saúde das mulheres. Com uma equipe de criação predominantemente feminina, a produção se apresenta como um manifesto pela liberdade do corpo e da expressão subjetiva, trazendo à cena o que muitas vezes é ignorado e silenciado.
“Espero que as pessoas possam sair tocadas e sensibilizadas com esse sacrifício ao qual muitas mulheres se submetem, e que possam refletir sobre a complexidade da relação com a comida, o corpo, a cultura das dietas, restrições alimentares e nutrição que vivemos hoje e também uma crítica à gourmetização da comida e do consumo em volta disso”, conclui Maíra.
Sesc Belenzinho – Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, São Paulo, SP.