A ONG britânica Earthsight divulgou um relatório nesta quinta-feira (11.04) atrelando as empresas de fast fashion H&M e Zara ao desmatamento no cerrado brasileiro, além de apropriação de terras, corrupção e violência nas plantações de algodão das empresas fornecedoras do material que elas usam em suas peças.
A descoberta veio após a organização sem fins lucrativos acompanhar 816 mil toneladas de algodão produzidas no oeste da Bahia pelas gigantes agroindustriais SLC Agrícola e Grupo Horita, que seguiram para fábricas têxteis na Ásia que abastecem as duas gigantes do fast fashion: a espanhola Zara e a sueca H&M.
O relatório descobriu que, no ano passado, as empresas compraram milhões de jeans, casacos, meias e camisetas de fornecedores ligados ao algodão brasileiro envolvido em graves danos socioambientais. Acontece que esse algodão estava certificado como sustentável pela organização Better Cotton.
“Para garantir que o algodão procede de uma fonte ética, as duas empresas se baseiam no algodão fornecido pelos agricultores certificados pela Better Cotton, o sistema de certificação de algodão sustentável mais conhecido do mundo, mas que tem profundas lacunas”, afirma a Earthsight.
Ao Business of Fashion, a SLC Agrícola disse que sua produção de algodão segue parâmetros rigorosos e que adotou uma política de zero desmatamento em 2021. O Grupo Horita não respondeu ao pedido de comentário.
Já a Inditex, holding dona da Zara, afirmou à agência de notícias AFP que leva “muito a sério as acusações contra a Better Cotton, que proíbe estritamente práticas como usurpação de terras e desmatamento em suas especificações de condições”.
A H&M teve a mesma resposta. O grupo sueco ainda afirma que foi “um dos primeiros a passar para o algodão 100% orgânico, reciclado ou de origem sustentável” e que está “acompanhando as conclusões da investigação” em diálogo estreito com a Better Cotton.
A organização Better Cotton disse à Earthsight que “confiou a um auditor independente a missão de fazer visitas de verificação reforçadas” após publicação do relatório.
No Brasil, a Better Cotton é administrada pela Abrapa, que afirma: “Tomamos conhecimento da investigação da Earthsight pela primeira vez em setembro de 2023, quando fomos abordados pela ONG para tratar de suas alegações. Sem demora, a Abrapa, em colaboração com os produtores mencionados, forneceu à Earthsight as evidências legais e técnicas para abordar e contrapor as afirmações. Infelizmente, estas foram largamente ignorados no relatório publicado hoje”. Veja o comunicado completo aqui.