A Gentil Carioca São Paulo apresenta “My Black Utopia”, primeira exposição do artista O Bastardo na galeria, com abertura no dia 9 de novembro, sábado, das 14h às 19h. O texto crítico é assinado por Lilia Schwarcz.
A partir de um processo de apropriação de símbolos e ícones presentes em obras canônicas da história da arte ocidental, O Bastardo propõe a criação de um mundo utópico onde as figuras dessas obras habitam uma realidade paralela, marcada pela presença e protagonismo da figura preta. O artista descreve esse processo como um “atropelamento” dos clássicos, uma sobreposição que expõe a existência desse universo alternativo.
Os temas trazidos em suas obras nos direcionam ao atravessamento entre práticas cotidianas do empoderamento de pessoas negras e gestos usuais de pertencimento a grupos sociais, como a bênção ou a descoloração do cabelo. Nas cenas dos retratos, em séries como “Pretos de griffe” e “Só Lazer”, consumo, lazer e vaidade são algumas das identificações exibidas por grupos que, supostamente, estão ausentes desse tipo de representação. Lazer e consumo configuram assuntos cada vez mais recorrentes em obras de artistas racializados, já que a história evidenciou os gestos de violência e sobrevivência como modo de inserção e denúncia às atrocidades perpetradas sobre a maioria da população brasileira.
“‘My Black Utopia’ diz respeito, portanto, ao protagonismo preto. Não se trata de apenas ‘pegar e copiar’, como diz O Bastardo. Mas de ‘pegar e projetar para outro horizonte’, como na ‘Alegoria da Caverna’, escrita por Platão. Neste texto, o filósofo mostra como pessoas presas desde a infância neste local acreditavam que as sombras que projetavam nas paredes eram as únicas realidades existentes. Pois bem, nosso artista mostra como toda tela carrega outras possibilidades – expressas ou ocultas – e assim nos convida a olhar de novo, e enxergar diferente”, aponta Lilia Schwarcz.
O Bastardo se criou em Mesquita, município da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Atuando, inicialmente, em linguagens urbanas, como o grafitti, o artista elabora um diálogo direto entre questões autobiográficas e o pensamento pictórico, conquista gestada entre vivências familiares e passagens por escolas de arte, como a EAV Parque Lage, no Rio de Janeiro, e a Beaux- Arts de Paris.
A Gentil Carioca SP – Travessa Dona Paula, 108, Higienópolis, São Paulo, SP. Até 18 de janeiro de 2025.