Shorts de desempenho e camisetas de compressão estão muito longe da regeneração de poliéster, mas esse é o mundo em que Patrik Frisk está imerso agora. O ex-CEO da Under Armour agora atua como CEO da Reju, uma empresa de regeneração têxtil sediada em Paris que acaba de concluir a construção de uma planta para reciclar tecidos de poliéster.
Chamada de Regeneration Hub Zero, a fábrica, que fica em Frankfurt (Alemanha), pode recuperar, coletar e classificar tecidos que foram descartados e transformá-los em Reju Polyester, que tem uma pegada de carbono 50% menor do que o poliéster virgem.
A Reju foi formada há apenas um ano em Paris. Ela é de propriedade da Technip Energies, uma empresa de engenharia e tecnologia, que usa tecnologia inventada pela IBM. Frisk disse que se envolveu com essa tecnologia emergente pela primeira vez em 2019, enquanto ainda liderava a Under Armour.
“Na Under Armour, estávamos em um caminho para tentar usar mais conteúdo reciclável em nossas roupas de poliéster”, disse ele, mas a equipe não conseguiu encontrar materiais reciclados suficientes de fontes têxteis para cumprir a missão. A única opção disponível eram garrafas recicladas e isso não é sustentável a longo prazo, segundo eles, então a empresa precisava encontrar outros caminhos.
Logo depois, eles ouviram sobre essa nova tecnologia sendo desenvolvida pela IBM que eles acreditavam ser “revolucionária” porque era capaz de trabalhar com materiais mistos, que é o material com o qual a maioria dos itens de vestuário é feita. “Com poliéster 100% puro, você meio que desmonta e monta novamente”, diz Frisk. “E isso pode ser feito com muitas tecnologias diferentes. O que faltava era algo que pudesse aproveitar o que fazemos na indústria de vestuário, que é supercomplexo, e isso se mostrou promissor. Então decidimos investir.”
Logo depois, a Technip, uma das maiores empresas de engenharia no espaço do poliéster, também se envolveu. “Eles construíram mais de 1.000 fábricas de poliéster”, afirma Frisk. “Mas eles também estavam envolvidos com petróleo e outros produtos como gás natural, hidrogênio, captura de carbono. Eles estavam procurando o que viria a seguir em termos de projetos de engenharia no espaço de energias renováveis, então a IBM tinha essa tecnologia, a Technip poderia construí-la, e a Under Armour era a marca e o produto. Parecia que isso poderia ser algo que ia funcionar.”
O próximo passo foi construir uma planta de demonstração para que a tecnologia pudesse ser dimensionada. A Under Armour não estava preparada para investir na construção de uma fábrica, nem a IBM, mas a Technip estava dentro.
Assim que Frisk deixou a Under Armour em 2022, a Technip o abordou sobre continuar trabalhando no projeto e mais tarde o nomeou CEO do recém-formado negócio Reju.
Ele sabia que não tinha nenhuma experiência no que ele chama de “back back end” da indústria de vestuário, então ele passou nove meses mergulhando no negócio para entender a tecnologia, as regulamentações que a impactariam e a melhor maneira de trazê-la ao mercado.
Entre as coisas que ele aprendeu estava o enorme tamanho e escopo dos resíduos têxteis. “O mundo produz 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis a cada ano, mas menos de 1% é reciclado. É um sistema que extrai recursos finitos, criando resíduos têxteis sem responsabilidade pelo fim da vida útil. A Reju vai mudar isso desbloqueando um novo sistema por meio de parcerias críticas ao redor do mundo. Nós construiremos infraestrutura, escalaremos tecnologia, cumpriremos a regulamentação e, no final, ajudaremos a indústria têxtil a evoluir e permitir uma mudança de comportamento. Nosso Regeneration Hub Zero em Frankfurt é um marco significativo, mostrando como essa tecnologia avançada aborda o problema global de resíduos têxteis.”
O Hub espera começar as entregas em 2025, mesmo ano em que a Europa começará a segregar resíduos têxteis como faz com garrafas e outros materiais recicláveis. “As portas estão se fechando”, disse ele. “E as marcas precisam começar a se responsabilizar pelos resíduos que estão criando”, completa.
“É aí que a Reju entra”, salienta Frisk. A empresa tem especialistas em fios e tecidos na equipe para trabalhar com as marcas para garantir que seus resíduos tenham uma “segunda vida”.
“A capacidade de pegar o que hoje é lixo puro e transformá-lo em nova matéria-prima é factível”, comenta Frisk. Entre 2022 e 2023, o mundo passou de 116 milhões de toneladas de têxteis para 124 milhões de toneladas – 7 milhões das quais eram poliéster. E os números só vão aumentar, segundo relatório do Mercado de Materiais divulgado pela Textile Exchange.
Frisk disse que a empresa já conquistou clientes, mas ele se recusou a nomeá-los neste momento. Mas a tecnologia pode ser usada por uma variedade de indústrias, desde hospitais até automotiva, além da moda. “Cinquenta e sete por cento de todas as fibras do mundo são feitas de poliéster. Não há nada lá fora que seja tão versátil, tão durável, tão sem rugas, tão fácil de lavar. Então, vamos ficar presos a isso por um longo tempo.”
No espaço de vestuário, ele disse que, além de obter “estoque obsoleto” de marcas, a Reju também espera trabalhar com organizações sem fins lucrativos onde clientes individuais doam produtos indesejados.
Embora a Reju esteja começando com 100% poliéster e misturas de poliéster, ela também pode extrair algodão dos tecidos e os planos exigem eventualmente trabalhar com esse material também.
“Como o poliéster é o maior problema, precisamos terminar esse trabalho primeiro, antes de atacar o algodão. Mas vemos um futuro em que faremos as duas coisas”, disse ele. “Nosso objetivo é não deixar desperdício.”
Por esse motivo, a tecnologia estará disponível para todos e não será propriedade de nenhuma empresa específica, incluindo a Under Armour, que não é mais uma investidora. “Queremos que o máximo possível de [empresas] participe”, disse ele.
No geral, Frisk disse que está “incrivelmente otimista” de que essa nova tecnologia pode ajudar a resolver o problema global de resíduos. “Da garrafa para o têxtil não é sustentável, e há muito disso sendo feito hoje. Cerca de 13% da reciclagem de poliéster vem de garrafas. Será sustentável por um tempo, mas não para sempre.
“Estamos tentando ajudar [as empresas] a chegar a um lugar melhor. Estamos realmente tentando ajudá-las a passar por essa transição da forma mais fácil e indolor possível”, finaliza. Com informações do WWD.