O artista No Martins (1987, São Paulo, SP, Brasil) inaugura a individual “Fronteiras Inóspitas” em 9 de novembro, sábado, na Millan, em SP. Com texto crítico da curadora e pesquisadora Luciara Ribeiro, a exposição apresenta um conjunto inédito de pinturas, esculturas e instalações que demonstram a expansão material e conceitual na prática do artista, enquanto aprofunda os temas debatidos ao longo de sua carreira.
Primeira individual de No Martins no Brasil em cinco anos, “Fronteiras Inóspitas” investiga as relações entre sujeito e as estruturas sociais dominantes, permeadas por debates existenciais clássicos. Exemplo dessas reflexões é o conjunto de pinturas produzido para a exposição, nas quais o artista empresta sua imagem na forma de autorretratos. Pensando em dimensões que não se limitam a si, Martins se coloca em ambientes marcados por símbolos relacionados à brevidade e aos impasses da vida, assim como signos que dizem respeito à sociedade brasileira. Uma dessas pinturas revela uma cena de aniversário com balões, faixas e uma mesa com garrafas de refrigerantes. O personagem sopra as velas de um bolo, ao lado do qual repousa um crânio. O símbolo é um clássico memento mori – imagens que na história da arte servem como lembrete de que a existência é passageira.
Outra obra mostra o personagem alimentando um urubu e vestindo uma camiseta com referência à bandeira de Hélio Oiticica – a imagem do corpo de “Cara de Cavalo” estirado e uma alteração na célebre frase: “Seja marginal, não seja herói”. Mais do que uma citação, Martins faz uma provocação ao sistema da arte e questiona os valores sociais que distinguem alguns entre prestígio e marginalidade.
A investigação existencial marcada pela crítica política é presente, também, na grande instalação que recebe o público na galeria. “Seca” é composta por um barco que repousa sobre uma superfície espelhada. Ao se aproximar, o espectador nota que na embarcação há, ainda, um outro espelho. “Uma ilusão, uma miragem, uma impossibilidade na possibilidade”, escreve a curadora Luciara no texto da exposição. “A imagem capturada pelo espelho torna o corpo presente dentro do barco, toda uma dimensão do confronto entre a realidade e suas projeções, o tempo e o espaço. O tempo é outro, com dilatações e acelerações, sendo sentido e projetado, computado ou arriscado”, completa.
A violência presente no cotidiano brasileiro, sobretudo a perpetrada pelo Estado, é abordada frontalmente em outros trabalhos em exibição. Coletes à prova de balas são moldes para esculturas, além de serem, eles mesmos, material para obras. Em “Dress Code 2”, eles são posicionados e ordenados sobre a parede aludindo a composições formalistas da arte concreta brasileira. A obra coloca discussões sobre a monetização da violência, apontando o controle, a segurança e a vigilância dos corpos. “Vigilância e controle como estratégia de gestão de violências públicas, políticas, sociais, educacionais, policiais”, finaliza a curadora.
Millan – R. Fradique Coutinho, 1.430, Pinheiros, São Paulo, SP.