No próximo dia 3, sábado, a Millan abre a coletiva “Seis Propostas de Calvino”, com curadoria de Antonio Gonçalves Filho. A exposição convida artistas de diferentes gerações para dialogarem com as seis propostas para o próximo milênio do autor italiano Italo Calvino (1923–1985): leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência.
A ideia é aproximar as obras de seis artistas a cada uma das conferências que o autor italiano faria na universidade de Harvard, nos EUA, em 1985, dedicadas às qualidades do fazer artístico a serem preservadas após a virada para os anos 2000. “Calvino, ao lado do escritor alemão W. G. Sebald (1944–2001), foi o autor contemporâneo que mais se preocupou com as relações entre escrita e imagem”, afirma o curador. “Suas seis propostas para o terceiro milênio servem, portanto, à literatura e ao universo das artes visuais, o que justifica a retomada do conteúdo de suas conferências no contexto atual.”
Deste modo, a curadoria sugeriu correspondências entre os trabalhos de Ana Amorim (1956, São Paulo, SP, Brasil) à rapidez; os de Cassio Michalany (1949–2024, São Paulo, SP, Brasil) à exatidão; os de Emmanuel Nassar (1949, Capanema, PA, Brasil) à consistência; os de Miguel Rio Branco (1946, Las Palmas de Gran Canaria, Espanha) à visibilidade; os de Tatiana Blass (1979, São Paulo, SP, Brasil) à multiplicidade; e os de Thiago Hattnher (1990, São Paulo, SP, Brasil) à leveza.
Desses nomes, foi selecionado um conjunto com mais de 20 obras, entre trabalhos históricos e recentes, além daqueles concebidos especialmente para a exposição. É o caso da série “Multiplicidade”, de Tatiana Blass, que dialoga diretamente com trechos selecionados do livro de Calvino. Criadas com óleo e cera sobre bronze, cerâmica ou metal, essas pinturas são acopladas a uma resistência elétrica que age sobre a superfície das obras para transformá-las: à medida que a primeira camada de parafina derrete, uma nova imagem é revelada. O processo é exibido em vídeo, ao lado das pinturas, exceto em “Multiplicidade #4: O observador intervém para modificar o fenômeno observado”, cujo derretimento se dará ao longo da exposição por meio de um sensor de presença.
Respondendo à leveza, o pintor Thiago Hattnher também apresenta obras criadas especialmente para a mostra. Ana Amorim apresenta um desenho e um bordado, de 2019 e 2020, respectivamente. Esses trabalhos se relacionam com a ideia de rapidez que, para Calvino, está subordinada à observação atenta do mundo.
Emmanuel Nassar, por sua vez, assumiu o desafio de interpretar a sexta proposta, consistência, que, no entanto, nunca fora escrita devido à súbita morte do autor italiano. Assim, o artista amalgamou todas as propostas em uma “estante” na qual os livros são telas de pintura posicionadas em sequência, constituindo uma pintura-objeto inédita.
Já o conceito de visibilidade é representado pelas fotografias de Miguel Rio Branco. As obras do consolidado artista constituem metáforas sobre o visível e o oculto, ao apresentar uma fachada de um cinema que se assemelha a uma face ou um autorretrato onde apenas sua sombra é vista.
Inaugurando o programa do segundo semestre do ano na Millan, “Seis Propostas de Calvino” também presta homenagem ao artista Cassio Michalany, que morreu durante a preparação da exposição. Dele, são mostrados três polípticos criados entre 2023 e 2024, nas quais composições precisas lidam com a permutação de cores e de formas em chapas de madeira.
Millan – R. Fradique Coutinho, 1.430, Pinheiros, São Paulo, Brasil. Até 6 de setembro de 2024. Entrada gratuita.