A Luciana Brito Galeria anuncia “Corpo Artifinatural”, a maior exposição de Analivia Cordeiro no Brasil, com abertura no dia 18 de maio. Com curadoria do francês Franck James Marlot, a mostra traz um panorama da obra da artista dos últimos 50 anos, inclusive com algumas de suas produções mais recentes. Reconhecida como pioneira latino-americana da videoarte e computer dance, Analivia é responsável por uma trajetória consistente nas artes visuais, consolidada através de uma pesquisa inovadora que combina tecnologia e consciência corporal.
O projeto visa traduzir o peso histórico do legado de Analivia em uma narrativa sólida, lúdica e interativa, própria para o entendimento e participação de todos. A curadoria de Marlot propõe apresentar pela primeira vez ao público brasileiro a importância da pesquisa de artista, principalmente sua contribuição para a evolução das artes visuais. Para isso, os trabalhos selecionados, dentre vídeos históricos, estudos, documentos, fotografias, performances etc. formam um conjunto coeso que faz jus à pesquisa híbrida e multidisciplinar da artista, que sempre esteve à frente no estudo das mídias digitais, promovendo a inserção da tecnologia no campo da pesquisa artística a partir da linguagem corporal, com foco na sua expressão e consciência.
A obra que deu início às pesquisas nesse campo foi “M3x3” (1973), considerada a primeira video-arte latino-americana. A partir de então, foram anos de investigação das quais Analivia realizou uma série de trabalhos em computer dance, pesquisa desenvolvida no Centro de Computação da Unicamp, que mudaram os rumos da videodança no mundo, sendo responsável por posicionar a artista como uma referência nesse assunto até os dias atuais.
Para isso, ela criou um programa de computador na linguagem Fortran IV (Formula Translation), que processava as informações para então fornecer instruções de coordenação tanto para a sequência de movimentos dos dançarinos, quanto para a atuação dos técnicos de produção do vídeo. Em 1974, a artista produziu a obra que norteia a curadoria da exposição “Corpo Artifinatural” – “0°=45°”. Historicamente, as especulações em torno da dança e da performance conduziam às questões de codificação e notação: como os movimentos do corpo podem ser codificados no espaço e no tempo?
Considerada pelo curador como sendo essencial na produção de Analivia, a obra “0°=45°” (1974), precursora do videoclipe, foi realizada em seis versões, que segundo ele, não apenas demonstram a evolução performática da artista, como também da
própria videoarte. Em “0°=45°”, a artista realiza uma coreografia de movimentos circulares e diagonais, em 45º e 90º, promovendo uma simbiose entre o figurino e a cenografia, ambos pensados a partir da estética concretista. Os movimentos corporais promovem uma combinação sinestésica do cenário de polígonos e retângulos, cuja disposição também era sorteada pelo. computador. Todas as versões de “0°=45°” seguem o mesmo roteiro de notação de dança. A câmera se move, como se fosse o olhar do público.
Nas versões I e II, a câmera é estática, focada na cena como um todo. Já na versão III, por exemplo, a imagem é fechada, focalizando partes separadas do corpo. A mostra também apresenta a última versão de “0°=45°”, adaptada 50 anos “0°=45°” reflete a pesquisa de Analivia até os dias atuais, pois é um estudo dos graus de inteligibilidade visual do movimento, além de ser um retrato da nossa imagem corporal fragmentada, consequência do estilo de vida agitado e stress da sociedade moderna, que já dava as caras no contexto dos anos de 1970. Trata-se de um experimento sobre nossa percepção do espaço-tempo, assim como outras de suas obras em computer dance, como o software “Nota Anna” (1981), considerado o primeiro trabalho em motion capture do mundo.
Apresentada na mostra em sua versão mais recente, interativa e instalativa, “Nota Anna” é o resultado da evolução da pesquisa da artista em notação do movimento, realizada conjuntamente com o cientista de computação Nilton Lobo, baseada no método Laban. O software descreve graficamente o deslocamento no espaço das 24 articulações do corpo nas três dimensões, o que poderá ser experienciado pelo público na exposição.
Além disso, a mostra reúne uma seleção de documentos e estudos importantes para a pesquisa de Analivia, com vídeos documentários sobre a trajetória da artista, bem como um conjunto de retratos que datam de 1987 a 2020, assinados por Bob Wolfenson, que demonstram a longa amizade entre os dois.
Luciana Brito Galeria – Av. Nove de Julho, 5.162, SP. Até 20 de julho.