Juliane Araújo, 34, é atriz, mas não apenas. Ela também é escritora, roteirista e diretora-assistente. Talvez todas essas outras funções que exerce sejam menos conhecidas do grande público, mas basta ver seu rosto para se lembrar de algum papel que ela já representou. Começou cedo no teatro, com idade entre oito e dez anos, e já sabia qual seria seu destino: as artes. O pai metalúrgico e a mãe esteticista fizeram de tudo para que ela seguisse seu sonho e pudesse ter outras oportunidades. Dentre os papéis que representou, e que não foram poucos, Juliane destaca Sarita, de “Êta Mundo Bom!”, TV Globo. Segundo ela, a trama, além de colocá-la para contracenar com grandes nomes da teledramaturgia, foi uma chance de aprendizado, além de ter sido um trabalho que ela realmente teve prazer em fazer tanto no âmbito pessoal como no profissional.
Atualmente em “Renascer”, onde interpreta a personagem Kika, Juliane divide seu tempo com seus outros projetos. Além da trama das 21h da TV Globo, a atriz ainda virá no streaming e no cinema. Pelo Globoplay, gravou a série “Veronika”, em que interpreta Renata, mulher de um dos grandes chefes do tráfico do Rio de Janeiro. No cinema, “Infinimundo”, filme de realidade fantástica, é sua mais recente produção, que está em fase de finalização. Ela também escreve coisas de forma despretenciosa, o que pode vir a ser um apanhado para seu segundo livro de poesias, embora não tenha planos para isso agora. O primeiro, “Chão Vermelho” (Ed. Crivo, R$ 44), foi lançado em 2021. Planos para o futuro? Cinema é o objetivo.
Leia o papo que CHNews teve com Juliane via Zoom.
Como você se torna atriz, como tudo começou?
Eu comecei muito cedo no teatro, com oito, dez anos. O teatro me salvou, acho que devia ser matéria escolar. Venho da periferia e de uma família que não tem artistas. Minha percepção acerca das coisas foi ampliada com o teatro. Então pensar que uma família de metalúrgico e uma esteticista já pensava em como proporcionar algo mais profundo de conhecimento para a filha, no caso eu, é muito bonito. Passei para a minha primeira novela com 21 anos, e tudo começou a partir daí, foi muito louco, porque eu tinha na minha cabeça que atriz de teatro tinha que trabalhar em teatro, então demorei um pouco para fazer testes para o audiovisual. Eu tinha ido fazer um cadastro na TV Globo, e acabou que fui chamada na mesma hora para fazer um teste para uma novela e passei.
Quais dos seus trabalhos você destacaria?
Acho que na TV foi uma novela das 18h. Eu fiz muitas novelas de época. “Êta Mundo Bom!” foi bem marcante, minha personagem [Sarita] era uma pin-up que caiu no gosto do público. E foi muito legal fazer, eu trabalhava com gênios da TV como Flávio Migliaccio, Suely Franco… Ver essa galera em cena, para além do aprendizado, é quase um movimento político. Foi uma novela tanto no pessoal como no profissional que foi muito bacana de fazer.
E como rolou a Kika, de “Renascer”, para você?
A gente sempre sabe que vai ter novela nova, né? Quando eu soube que ia ter “Renascer”, pensei: “preciso fazer essa novela”. E a história toda era muito próxima de mim, o brasileiro tem essa relação com as novelas, assistem e tal. Bem, fui chamada por uma produtora de elenco para fazer o teste e passei para a Kika.
Você assistiu à primeira edição de “Renascer”?
Para compor a Kika eu não assisti, vi apenas algumas cenas, eu queria ter esse distanciamento para poder criar. Vi algumas cenas em que a Claudia [Lira] aparecia com os pés na mesa, por exemplo, e isso já era uma revolução para a época, em 1993, já estavam falando de feminismo há muito tempo.
E você tem recebido um retorno do público com a Kika?
Tenho, sim. Eu não tenho X (ex-Twitter), mas meus sobrinhos me mandam e eu acompanho. As pessoas falam muito sobre a Kika ser esse ponto de sensatez dentro da novela, querem ser a Kika, ser essa mulher. A Kika fala sobre transfobia, machismo, ela é muito sensata em tudo o que diz, ela coloca uma lupa nessa relação dos Inocêncio.
Além de atriz você é roteirista, fale um pouco sobre isso.
A escrita está presente desde sempre. Primeiro eu uso a escrita para compor os personagens, mas ela chegou para mim por meio da poesia. Eu lancei um livro em 2020, “Chão Vermelho”, que é justamente um livro de poesias. Eu tenho um longa-metragem escrito e que já está em fase de negociação, tenho um curta [“Travessia”] já feito e tenho outro que pretendo rodar. Comecei a pensar que os artistas que eu mais admiro ocupam vários espaços e eu sou assim também, estou ampliando meus caminhos. Tem sido muito bom estar em outros lugares, fazer outras coisas, estou me aventurando. O “Travessia” foi uma porta de entrada para eu fazer ouras coisas, nós filmamos o curta com 13 pessoas, e isso mostra como podemos fazer muito mais. Esse longa-metragem que está pronto é para venda, porque a minha carreira de atriz também ocupa muito do meu tempo.
Conte sobre a série “Veronika”, do Globoplay.
“Veronica” é muito legal. A Renata, minha personagem, é uma mulher muito louca, que talvez ganhe mais espaço nas próximas temporadas. Talvez tenha sido a personagem mais fora da curva que eu já peguei. Ela é uma mulher que não passa pela racionalidade como outras que já fiz, com ela tem de ir meio que na profundidade humana, ela não pensa, ela age, ela vem de uma relação muito conflituosa. É casada com um dos maiores chefes do tráfico do Rio de Janeiro, então tem esse perigo todo latente. Ela cumpre uma jornada muito diferente de tudo o que já fiz na vida, graças a Deus, e nas artes. É uma série muito lega, feita com muitas pessoas pretas, periféricas. Tem aí o dedo do AfroReggae. É uma série muito forte, acho que vai ser incrível.
E “Infinimundo”, o longa que você participa?
“Infinimundo” é um filme que guardo muito no meu coração, porque é de realismo fantástico, gênero que a gente ainda faz muito pouco no Brasil, e são filmes que marcam a minha vida, como “Amélie Poulain”, “Peixe Grande”, são o gênero que eu sou mais apaixonada na vida. Então, fazer um filme com uma narrativa completamente diferente do que eu já estava acostumada, foi demais. Faço uma mulher chamada Coroa de Flores, que é uma vilã em um pequeno povoado. Eu achei lindo, é de brilhar os olhos, eu amei fazer. Acho que a gente conta histórias que existem, mas precisamos também contar histórias que precisam existir. A arte tem que antecipar os movimentos e pensar na evolução humana do mundo.
E o que vem pela frente, quais são seus próximos projetos?
Eu quero muito fazer cinema, estou concentrando minha energia nisso, existem possibilidades com projetos que ainda não estão fechados. Tem o final de “Renascer” e a filmagem do meu curta, que deve acontecer até dezembro.
Você pretende escrever um outro livro?
Acho que não, nem penso nisso, sabe? Tem gente que senta e escreve um livro, outras que vão escrevendo e juntando para ver se dá ou não caldo, acho que estou nessa fase.