Com abertura em 18 de junho e visitação até 17 de julho de 2024, a exposição “A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta” apresenta ao público uma série de seis desenhos-pinturas do artista indígena paraguaio Ogwa (cerca de 1937-2008) e 35 pinturas de sua neta, Salmi López Balbuena (1982), expoentes da arte indígena do povo Ishir, comunidade situada em Puerto Diana, às margens do rio Paraguai e ao norte do Gran Chaco. Primeira grande exposição internacional a estabelecer diálogos entre as poéticas de Ogwa e Salmi, a mostra, realizada pela Galeria Estação no ano em que comemora duas décadas de atuação, também evidencia conexões geracionais permeadas pela ancestralidade ishir.
“A importância da obra de Ogwa começa quando ele foi um informante da conhecida antropóloga húngara Branislava Susnik, nos anos 1950. Provendo relatos da cosmogonia, dos ritos e dos mitos, em relatórios também acompanhados de seus desenhos, com o tempo Ogwa tornou-se o primeiro indígena reconhecido como um artista contemporâneo no Paraguai. Salmi, que cresceu com o avô, suas histórias e seus relatos, também aprendeu a desenhar com ele. A diferença entre a arte do avô e a da neta é que Salmi foi trabalhando com um olhar próprio, que agregou a pintura acrílica, as cores e os movimentos, mas a história é a mesma: dos relatos, das iniciações da cultura ishir através dos mitos, dos ritos e das cerimônias desse mundo ishir do Alto Paraguai”, explica Fredi Casco, que divide a curadoria com Fernando Allen.
Ex-ministro da Cultura do Paraguai e fundador do Museu de Arte Indígena do Paraguai, com mais de 20 livros publicados sobre teoria da arte e da cultura, o crítico e curador Ticio Escobar, que assina o catálogo de “A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta”, defende que as criações de Ogwa constituem uma figuração vigorosa e sem paralelo “nem na sua própria cultura nem na arte do Ocidente”. Entre as mostras mais relevantes de suas obras destacam-se “Mémoires Vives – 30 anos da Fondation Cartier”, em 2014, em Paris; “El cielo Ishir: Relatos cosmogónicos del Chaco Paraguayo”, organizada em conjunto com a Embaixada do Paraguai na Espanha, no Museo de América em Madri, em 2023; e “El legado de Ogwa”, no Centro Cultural del Lago, em Assunção, em 2024.
“O amplo conhecimento de Ogwa sobre o mito e o ritual ishir, aliado às suas experiências e movido por uma imaginação maravilhosa e um grande talento pessoal, levaram-no a inaugurar seu próprio gênero dentro das artes visuais do nosso país, cujo acervo é enriquecido com novas energias, diferentes pontos de vista e outras formas de abordar a representação. (…) Ogwa falava longamente, como fazem os Ishir, e ilustrava ao mesmo tempo, o que resultou em centenas de desenhos que, a dada altura, começaram a ser feitos fora da informação etnográfica e coloridos sem perder a referência determinante da linha. Assim, incentivados pelo mercado de arte e pelos caprichos da criação, seus desenhos ganharam autonomia e viraram pinturas ou, melhor, desenhos-pinturas”, explica Escobar.
Impactada com a exposição “Siamo Foresta”, mostra apresentada na Trienal de Milão de 2023 reunindo obras de 27 artistas de comunidades indígenas de diferentes países da América Latina, Vilma Eid, sócia-fundadora da Galeria Estação, teve também o primeiro contato com os curadores que, agora, apresentam o conjunto de obras selecionadas para a exposição “A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta”.
“Hervé Chandès, querido amigo, diretor da Fondation Cartier, instituição cultural francesa que tem em seu acervo obras de Ogwa, me apresentou a Fredi Casco e Fernando Allen. Eles fazem um maravilhoso trabalho pelos indígenas do Paraguai, na região do Chaco, e conhecemos muito pouco da cultura dos nossos vizinhos. Já em São Paulo, em uma reunião na Estação, Fredi me apresentou o trabalho histórico de Ogwa e de sua neta, Salmi. Meu entusiasmo foi imediato. Propus que juntos apresentássemos ao público brasileiro avô e neta, ainda desconhecidos por aqui. Convido a todos para um mergulho na cultura visual dessa família ishir”, conclui Vilma.
Galeria Estação – Rua Ferreira Araújo, 625, Pinheiros, São Paulo.