A Galeria Marilia Razuk anuncia a representação da artista visual Esther Bonder, cuja obra explora cenas que evocam uma forte conexão com a natureza, transcendendo a noção de simples representação ou transposição e rompendo com uma visão romantizada da própria categoria de natureza.
Suas paisagens se desdobram a partir de olhares distintos para diferentes pontos geográficos traduzindo-se em expressões e paletas de cores variáveis, dialogando com a tradição histórica (e se distanciando da concepção renascentista, na qual a ideia de cópia prevalecia).
A convivência prévia com Burle Marx e o trabalho de Esther como paisagista se manifestam em sua prática artística, não apenas através de um profundo conhecimento botânico, mas também pela presença de um respeito quase ritualístico por esses elementos.
Suas criações são baseadas principalmente na pintura, embora a artista, ocasionalmente, faça incursões tridimensionais, utilizando materiais como galhos secos e malhas metálicas para produzir objetos que operam como paisagens expandidas, ultrapassando os limites da possibilidade pictórica.
O corpo de trabalho de Esther, como um todo estabelece uma relação íntima com o meio ambiente, alinhando-se ao conceito da célebre antropóloga Anna Tsing, que enfatiza a necessidade de tornar as paisagens habitáveis em meio às urgências da crise ecológica global.
A artista mantém um constante diálogo com a ecologia, destacando a interdependência entre todos os seres e elementos que compõem o mundo, uma noção que parece ter sido negligenciada desde a modernidade, o que nos trouxe ao ponto crítico atual. Suas obras inevitavelmente promovem essa reflexão, que encontra respaldo em autores como Emanuelle Coccia, Ailton Krenak, Donna Haraway, entre outros.
A artista nos convida a revisitar a ideia de paisagem, afastando-se de metodologias que apostam na domesticação, e investindo em um campo mais amplo de experiências sensíveis, onde a matéria se transforma e se relaciona, produzindo metamorfoses e entrelaçamentos.
Suas obras são um convite ao espectador para refletir sobre como habitar este mundo com a urgência de recriar, a partir da delicadeza e da reverência (tal qual em suas expressões formais), modos de coexistência.