O estilista Antônio Castro investigou uma curiosa história de família ao criar a nova coleção da grife Foz: trata-se da sua tia-avó Laura, que saiu de casa, em Alagoas, nos anos 1930 para se juntar ao cangaço. “É uma história que sempre foi meio um fantasma na família. A gente nunca teve certeza sobre datas, o que aconteceu e como aconteceu”, conta Antônio. “Quando comecei a me aprofundar nesse tema, entendi que poderia tampar esses buracos com as versões que eu gostaria que a história pudesse ter tido”, complementa.
Antônio tem uma foto de Laura, em um momento apreensivo de sua história. “Nesta imagem está ela, o companheiro dela e mais um casal, em 1938, na Bahia, se entregando após o massacre onde matam Lampião e Maria Bonita. E é quando, de fato, o cangaço se esvai. E depois dessa foto, a gente não sabe de mais nada. Então, eu quis revisitar”, conta.
A coleção então chega dividida em três atos, que contam a história de Laura menina, mulher e finalmente se tornando uma lenda. Remetendo ao cangaço, as peças de Antônio ganham ares barrocos e de ostentação. “Mas com uma sensibilidade e com um olhar que tem muito a ver com a marca, que olha muito para o artesanal”, diz. Para conseguir esse efeito, ele trabalhou com artesãos de Tiradentes, em Minas Gerais: Nelinho (que faz entalhe em madeira) e Vaguinho (que trabalha com latão).
A Laura menina ganha roupas brancas adornadas com muitos paetês. Uma das peças, por exemplo, leva 5,3 mil deles em sua composição.
Já para o guarda-roupa da Laura Mulher, entram as estampas desenvolvidas em parceria com a artista Sil da Capela, de Alagoas, que faz arte com barro e inspirou Antônio a criar suas prints da temporada.
Outro detalhe muito interessante é o uso de moedas de 10 Cruzeiros em várias peças, inclusive um vestido e uma saia que levam o dinheiro costurado em toda a sua extensão. “As moedas eram itens de decoração do vestuário do cangaceiros. Nos chapéus e as medalhinhas que eles usavam. E a relação com o dinheiro era parte da subversão deles como um grupo bandoleiro: era tirar de um e dar para o outro”, relembra Antônio.
Para finalizar com a Laura lenda, o estilista escurece a coleção, entrando os pretos com belas flores bordadas em branco.