Uma série e sua protagonista vêm dando o que falar. Tratam-se de “Entre Longes”, série dirigida de dez episódios que passa na TV Brasil e que fala sobre a vida da enfermeira Rachel Steingruber, uma suíça que foi morar no Mato Grosso e acabou ficando por lá, e Carla Elgert, a protagonista.
A história em si, já é de prender, mas a interpretação de Carla, no papel da enfermeira, é para prestar atenção. Aos 33 anos, a porto-alegrense, radicada em São Paulo, colhe os frutos de sua atuação, e, ao mesmo tempo, prepara sua entrada no mercado internacional: Europa. Com espanhol e inglês fluentes, a atriz se divide entre São Paulo e Madri, onde grava publicidade e faz cursos de interpretação. Mas a ideia é partir para gravação de séries e longa-metragens. “Meu vetor principal para este ano é fazer séries e longas na Espanha. Assim como no Brasil”, diz.
Para “Entre Longes”, Carla enfrentou alguns desafios, como aprender práticas de enfermagem, o sotaque alemão e até a andar de cavalo. “O fato de estar fazendo uma protagonista já te leva para outro lugar, é muita dedicação, o que me despertou muita vontade de entrar na vida dessa mulher”, conta. E vem mais projetos por aí, a atriz também poderá ser vista em dois longas, um uruguaio, “Variaciones de Koch”, com direção de Julián Goyoaga [o primeiro longa de Carla atuando em espanhol], e um brasileiro “O Mundo Que Eu Conheço Lá Não Existe Mais”, com direção de Thiago Luciano, este com previsão de lançamento para ainda este ano.
Ela é rosto conhecido para quem assistiu à primeira da temporada da série de sucesso “Cidade Invisível”, da Netflix, quando ela foi Luiza, mãe do personagem Eric (Marco Pigossi). Também esteve em “Pico da Neblina”, da HBOMax, quando interpretou Brisa, uma patricinha inserida no mundo canábico e cheia de más intenções.
Leia a seguir o papo que CHNews teve com a atriz via Zoom.
Nasci em Porto Alegre, onde fiquei até meus 23 anos, foi quando comecei a gravar uma série de surfe para o canal OFF, e, a partir desta série, comei a sentir vontade de desbravar o Brasil, porque sempre gostei muito de viajar. Foi quando decidi ir morar no Rio, pois queria alçar voos mais altos como atriz. Fiquei um ano no Rio, onde fiz várias umas participações em séries e uma peça, “O Doador de Sonhos”, cuja participação foi muito profunda para mim, importante como amadurecer artístico. Foi quando começaram a surgir muitos teste para São Paulo, para onde acabei me mudando e onde vivo já há uns sete anos. Desde o ano passado, estou me dividindo entre São Paulo e Barcelona e Madri, na Espanha.
E o que você está fazendo em Madri?
Em Madri eu comecei a filmar publicidade, gravei muitas. Tudo começa porque no fim do ano retrasado eu gravei um longa-metragem no Uruguai, “Variaciones de Koch”- são quatro histórias de um homem mediante quatro opções que ele fez na vida -, falado em espanhol, então resolvi me dedicar à língua. Fui para a Espanha numa troca de casas, fiquei na casa de um espanhol durante três meses e ele na minha. Eu amei gravar em espanhol, acho que descobri uma gaveta dentro de mim que ainda estava guardada.
E você pretende fazer teatro ou uma série na Espanha?
Sim, pretendo muito. Agora, inclusive, estou indo para a Espanha porque vou fazer dois cursos. A agência para a qual trabalho tem o braço da publicidade e o da ficção, e agora vamos apostar mais na ficção. Meu vetor principal para este ano é fazer séries e longas na Espanha. Assim como no Brasil.
Quando deve ser lançado o “Variaciones de Koch”, longa que você fez no Uruguai?
Eu acredito que até o final deste ano, mas realmente não tenho essa informação. Tem um outro longa, este brasileiro, em que eu atuei como Eduardo Moscovis e a Lucy Ramos, “O Mundo Que Eu Conheço Lá Não Existe Mais”, que trata sobre uma síndrome que atinge a sociedade em um futuro não muito distante, e essa síndrome inibe o amor. Eu faço uma inteligência artificial que fala o tempo todo com a Lucy, foi um trabalho 80% de voz, muito interessante trabalhar sem os olhos, o rosto, apenas com a voz. Este sim deve sair até o fim deste ano.
Como surgiu a oportunidade de fazer “Entre Longes”, que é uma série mato-grossense ambientada nos anos 1950?
A produtora de elenco de “Entre Longes”, Ana Araújo, começou a vasculhar as plataformas para tentar encontrar a Rachel (personagem). Ela acabou me vendo em uma dessas plataformas e, quando me viu, pensou: “Ela é a Rachel”. Então, a oportunidade de fazer a Rachel veio dessa forma.
Fale de sua personagem, a enfermeira Rachel, e como se preparou para o papel da protagonista.
O fato de estar fazendo uma protagonista já te leva para outro lugar, é muita dedicação, o que me despertou muita vontade de entrar na vida dessa mulher. A diretora me disse que embora a Rachel tivesse existido de verdade, a ideia dela era a de que eu criasse a minha Rachel. Ela é uma estrangeira, uma suíça, que vem para o Brasil, já falando português, mas com sotaque carregado, o que tive que desenvolver. São dez episódios, no décimo ela já está com o sotaque muito mais suave. Então, além do sotaque, eu tive que fazer uma dimerização dele. Fora que no mesmo dia eu podia gravar uma cena do começo da série ou um mais para o final, o que exigia a mudança de sotaque dentro de um mesmo dia. A Rachel também exigiu de mim controlar o emocional, porque no começo ela era uma mulher muito fria, depois passa a ser mais amorosa. Para o sotaque eu tive ajuda de duas pessoas bem especiais, a Léa Maria, que é uma alemã que fala português e tem um Instagram bem divertido. Eu achava o sotaque em português dela lindo, e resolvi me inspirar nela. Acabei mandando uma mensagem para ela no Instagram, e deu certo, ela me ajudou bastante. A outra pessoa foi o Gabriel Frei, que é um brasileiro que mora na Alemanha há muito tempo e que em ajudou. Ah, tiveram ainda as noções de enfermagem, que tive que aprender, e isso é um outro universo. Eu fui a vários postos de saúde para ficar observando. A Rachel é muito destemida, é uma mulher que chegou no Mato Grosso nos anos 1950 para atuar como enfermeira, ela tem uma desavença com o coronel da cidade, e isso aponta para o machismo e para as dificuldades que ela enfrenta, e revela o posicionamento de uma mulher forte. Eu também não andava a cavalo, foi outro aprendizado, foi muito legal essa experiência.
Como foi filmar em Mato Grosso, você já conhecia a região?
Eu nunca havia ido para o Mato Grosso, foi tudo novo. Lá eu era a estrangeira. Fui muito bem recebida, as pessoas são super-hospitaleiras, fiz muitos amigos. O Mato Grosso é um polo de audiovisual. Existiu uma energia de todo mundo estar alinhado e de querer dar o seu melhor.
Quanto tempo levou as gravações?
Nós fizemos em três períodos. Foi pouco mais de dois meses.
Qual a importância de uma série mato-grossense passar em âmbito nacional?
Ah, é muito importante. É a descentralização do audiovisual. A gente vem, já há alguns anos, sobretudo depois das plataformas (de streaming), conquistando esse lugar. Porque antes eram poucos os lugares que podíamos fazer, agora a gente tem muita possibilidade. É mostrar o Brasil para o Brasil. Um estado [Mato Grosso] colorido, cheio de nuances, histórias, e as pessoas não conhecem. Então que bonito é a gente poder contar uma história que é de lá. Ninguém conhece essa mulher [Rachel fora do Mato Grosso, então, poxa, que legal poder descentralizar e contar histórias locais. É tão bonito a gente não ficar bebendo só do “american dream”, mas também poder fazer um cinema aqui, com cheiro de Brasil, com qualidade, honestidade. Eu tenho vontade de fazer vários projetos assim, tipo ir filmar no Tocantins, por exemplo. É importante filmar outras regiões do Brasil, senão as que já estamos acostumados. Estou em um momento mais maduro e consistente. Antes eu tinha muita ansiedade de que as coisas acontecessem muito rápido, acho que tem a ver com o pós-30 . Estou vendo uma trajetória muito bonita que está sendo traçada, mas não tenho essa pressa tão grande hoje. Meu projeto é ter consistência, trabalhar em coisas que acredite.