Um dos expoentes da nova e proeminente geração de pintores brasileiros, Bruno Dunley (1984) mostra na galeria Nara Roesler Rio de Janeiro a exposição “Pequenas Alegrias”, um conjunto de 20 pinturas recentes e inéditas, em pequeno formato, que revelam o amadurecimento de um processo iniciado por uma viagem à Serra da Capivara, em 2014, quando viu os desenhos e pinturas pré-históricos. Compreender que “as pinturas rupestres não têm uma autoria individualizada, e representarem sistemas simbólicos que organizavam uma coletividade para suas atividades cotidianas e espirituais, registradas com um desenho aparentemente simples, que mostra a potência no tempo da marca humana”, impactou o trabalho do artista, e passou a ser “o aspecto mais comovente do ato de desenhar ou pintar”.
Dunley explica que a exposição “apresenta basicamente três questões: a relação com desenho; a experimentação de cores, materialidades e efeitos ópticos; e variações e jogo lúdico”.
Em 2015, ele mostrou um conjunto de desenhos em folhas de papel tamanho A4, realizados a partir da experiência com essas pinturas rupestres, que chamou de “Pequenas Alegrias”. Em meados de 2023, depois de muitos anos trabalhando com telas grandes, de 2 m x 3 m, Dunley começou a fazer pinturas em pequeno formato. “No meio desse processo eu percebi que havia, tanto no meu modo de conceber quanto de trabalhar, uma relação com os desenhos iniciados em 2014. A partir do momento dessa percepção, passei a entender que essas pinturas eram meus desenhos”, comenta.
Dunley conta que “a vontade experimental da cor para construir uma narrativa poética também acompanha minha pintura desde 2014”. “Foi esse desejo que me impulsionou a criar uma fábrica de tinta a óleo em São Paulo com o artista Rafael Carneiro, em 2020, no início da pandemia de Covid-19. Após quatro anos, essa empreitada me aproximou de forma radical e sistemática não apenas do universo e especificidades das cores, mas também de possibilidades e diferenças materiais e ópticas da tinta. Aspectos como transparência/opacidade, brilho/fosquidão, alastramento da tinta, preparação de telas com maior ou menor poder de absorção começaram a se intensificar em minha prática pictórica e a compor o meu vocabulário e ofício de pintor. Com isso, o aspecto experimental e manual da minha pintura tornou-se mais radical e variado”, diz.
A variedade e a singularidade das pinturas em “Pequenas Alegrias” provocam o olhar em um jogo lúdico, em que as telas se relacionam, e podem até ser arranjadas de maneiras diferentes. “O meu desejo quando monto uma exposição é estabelecer uma convivência entre essas diferenças, e dessa forma criar um espaço em que a percepção dessa coletividade construa um sentido próprio. A questão maior de uma exposição não está na individualidade das pinturas, mas sim no que as suas junções constroem e sugerem.”
Ele destaca que “a variação passou a acontecer tanto na estrutura das imagens apresentadas em cada pintura quanto nos diferentes tipos de materialidades existentes entre elas”. Há ainda uma “relação mais lúdica, pois essas pinturas se comportam como cartas de um jogo ou peças de um quebra cabeça. No final, com as pinturas montadas no espaço, surge a alusão a um livro de contos. Nele podemos perceber e identificar características semelhantes na escrita do autor, apesar das variações temáticas das histórias contadas em cada conto. Podemos ainda pensar nos ritmos dados pelos espaços em branco que ocupam uma partitura. Aqui, som e silêncio viram pintura e espaço”, observa Dunley.
Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro – Rua Redentor, 241, Ipanema, Rio de Janeiro. Até 1º de junho.