A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 22 de novembro de 2024 e 17 de janeiro de 2025, “235 pinturas-gato“, exposição individual de Luiz Paulo Baravelli, em São Paulo. A mostra reúne 235 pinturas produzidas durante o último ano, que revisitam, através do pequeno formato, o vocabulário pictórico e imagético que o artista vem desenvolvendo há mais de 50 anos. As pinturas-gato, para Baravelli, seriam aquelas que “quando você entra, vão para baixo do sofá e ficam te olhando. Se você chega perto e faz ‘pspsps’ elas vão embora. Depois, se elas gostam de você e no tempo delas, chegam devagarinho sem você perceber e roçam de leve na sua perna. Aí o jogo pode começar”.
É a partir desse temperamento felino que Baravelli dá o tom dessa exposição, uma espécie de panorama de sua obra que remodela o formato da retrospectiva ao dispensar o terreno seguro da reapresentação de trabalhos históricos. As 235 pinturas-gato estabelecem com o público uma relação que não busca a identificação imediata, se dá pelo estranhamento do primeiro contato. Para o artista, elas servem de mediadoras na relação que estabelece com o tempo e com a história, construída através do remix, de avanços e recuos, em um processo de digestão constante que ele chamou de “Manifesto Onívoro”.
Baravelli compõe em camadas, recorta e sobrepõe referências, estilos, materiais e texturas. Tais operações estão carregadas de um senso de humor que tem permitido ao artista estabelecer uma relação espirituosa com sua obra e que se faz evidente nos modos de abordar questões tão diversas como o amor, a história da arte, figuras de poder como políticos e colecionadores, problemas de planejamento urbano e a sensação de tédio de uma noite como outra qualquer. Não são temas, são questões que atravessam a qualquer um de nós, e que no trabalho de Baravelli surgem como comentários inusitados, mas sutis, daqueles que poderiam passar despercebidos em uma conversa com os mais desatentos.
“Há pinturas-cachorro e pinturas-gato. As pinturas-cachorro fazem como os cachorrões carentes: assim que você entra elas vêm babando com as patas sujas de tinta, pulam na sua blusa branca e lambem sua cara. Você sai correndo e xingando e não volta mais”, conclui Baravelli.
Galeria Marcelo Guarnieri – Alameda franca, 1.054, Jardins, São Paulo.