A Millan (São Paulo) e a Richard Saltoun Gallery (Londres/Roma) anunciam, juntas, a primeira exposição da artista indígena e ativista Daiara Tukano (São Paulo, 1982) na Espanha, na feira ARCOmadrid, dentro do setor “Nunca lo Mismo: Arte Latinoamericano”, com curadoria de José Esparza Chong Cuy e Manuela Moscoso.
Daiara é membro do clã Erëmiri Hãusiro Parameri do povo Yepá Mahsã, conhecido como Tukano, da região amazônica do Alto Rio Negro. Suas obras têm raízes na exploração das tradições e espiritualidade de seu povo, frequentemente guiadas por seus sonhos e pelas visões induzidas pela ingestão da medicina tradicional da ayahuasca. Suas obras são ferramentas da artista para combater legados colonialistas que silenciam e marginalizam comunidades indígenas ao redor do mundo.
O conjunto reúne três séries distintas, que exploram diferentes temas fundamentais na prática de Daiara. A série “Famílias Linguísticas – Línguas em Retomada”, resultado da extensa pesquisa da artista nas árvores linguísticas indígenas no Brasil, destaca a conexão vital entre a proteção dos direitos territoriais indígenas e a preservação ambiental. Ao lado delas, estão os desenhos feitos com nanquim apresentados em “Kithimori: Creation Memories”, na Richard Saltoun Gallery, em Roma, no ano passado. As plantas, animais e deidades semelhantes a humanos que emergem dessas obras, criadas durante uma residência em Roma, vêm das histórias do povo Tukano sobre a criação do universo.
As icônicas pinturas “Hori”, exibidas na 34ª Bienal de São Paulo em 2021, apresentam as visões provenientes das mirações obtidas pelo uso ritualístico da ayahuasca. Os padrões gráficos que aparecem nas obras constituem uma forma de escrita na cultura Tukano. Por fim, as pinturas em pequena escala e cores vibrantes “Yaymahsã” e “Miriãporã mahsã” retratam entidades meio mulheres, meio animais. Esta série estreou em “Amõ Numiã”, em 2023, na Millan, exposição individual na qual Daiara apresentou as histórias das “primeiras mulheres”, responsáveis pela criação do mundo e do universo.
Daiara apresenta uma visão feminina de narrativas tradicionais e é uma voz contundente no contexto global, que se volta ao ecofeminismo, à ecologia e às práticas artísticas indígenas. O projeto na ARCOmadrid é mais uma oportunidade de apresentar seus discursos ao cenário internacional.