Ela é atriz, instrumentista, cantora, compositora, DJ e produtora musical. Aos 32 anos, Amanda Magalhães está em um dos melhores momentos de sua carreira, bombando com suas esquetes de humor e música nas redes sociais. Aliás, se você ainda não viu nada no canal dela no Instagram, está perdendo a chance de dar boas gargalhadas. O trabalho vai virar um espetáculo para ser apresentado ao público em 2025, “Show de Memes”, em que ela levará ao palco todo o seu talento e humor. A ideia é rodar o país apresentando o show e, quem sabe, como ela própria diz, extrapolar fronteiras.
Além de ver seu número de seguidores aumentar nas redes sociais, as esquetes divertidas renderam a ela um convite para fazer a produção musical do “Quem Não Pode Se Sacode”, do GNT, apresentado por Fernanda Paes Leme e Giovanna Ewbank. Deu certo, criou vinhetas, trilha sonora e tudo o que dizia respeito às inserções musicais do programa.
Vinda de família de músicos, a carioca radicada em São Paulo há 19 anos é filha do produtor e arranjador William Magalhães (Banda Black Rio) e neta de Oberdan Magalhães, saxofonista que fundou a BBR em 1976. Daí já dá para sentir a veia artística que cresceu nela desde a infância. Tem dois álbuns de estúdio, ambos de excelente qualidade autoral e musical, “Fragma” e “Maré de Cheiro”. E prepara um outro para lançar em 2025. Suas influências? Música negra, especialmente o funk dos anos 1970, soul, jazz e samba, e trabalha fortemente ritmos regionais do Sudeste e Nordeste do país, além de fusionar MPB com música eletrônica.
Como atriz, Amanda foi um dos destaques da terceira temporada da série de sucesso “3%”, da Netflix , que rodou o mundo ganhando espectadores atentos ao trabalho exibido no streaming. Agora, no dia 12 de setembro próximo, ela estreia uma produção internacional filmada em Ubatuba, litoral norte de SP. Intitulado “Meu Amigo Pinguim”, cuja direção é de David Shurmann, o longa, falado em inglês [língua que ela é fluente] e baseado em fatos reais, conta a história de um pescador que se torna amigo de um pinguim que aparece na costa de Ubatuba e que necessita de cuidados, enquanto essa relação de amizade ajuda o pescador a superar o luto da morte do filho.
Não é pouco o que a moça vem fazendo, é bom ficar de olho e segui-la nas redes sociais. Ela tem sempre uma novidade boa ou divertida para mostrar. Leia a seguir o papo que o CHNews teve com Amanda, via Zoom.
Por que veio para SP?
Quando eu tinha uns 13 anos, uma parte da minha família, a de músicos, se mudou para cá, e meu pai vinha direto para fazer shows e ficava umas semanas por aqui, porque a Black Rio estava tocando muito em São Paulo. Aí viemos todos para cá. Vivi toda a minha adolescência em São Paulo e acabei ficando.
Como nasce a atriz Amanda Magalhães?
Olha, nessa de eu ter ficado em São Paulo e tal, chegou a época de prestar vestibular, e eu já tinha um lado da música muito presente na minha vida, e queria ter um novo aprendizado, mas que contemplasse o mundo das artes. E é quando as artes cênicas entram como opção para desenvolver outros lados artísticos. Aí prestei a USP (Universidade de São Paulo) e entrei, e tive essa formação. Comecei no teatro muito nova. Foi até um período em que escanteei um pouco a música, porque estava muito envolvida com a arte dramática, e assim começou a minha história com a atuação. Quando eu saio da USP, logo acontece a série “3%”, da Netflix, e foi meu primeiro trabalho grande no audiovisual. E desde então fui picada pelo bichinho do palco, como a galera do teatro costuma dizer.
Como surge sua relação com a música, afinal você é cantora, compositora, DJ e produtora musical? O DNA de casa ajudou? Quantos instrumentos você toca?
Cara, eu gosto muito de uma definição que outros idiomas têm, como o inglês, que usa o “play”, que é jogar, brincar, tocar… Eu brinco com vários instrumentos, mas tocar mesmo são as teclas, piano, teclado. Eu experimento muitas coisas, mas dizer que toco vários instrumentos não, diria que eu sou uma “brincante”.
Você também atua como produtora musical do “Quem Não Pode Se Sacode”, do GNT, como surgiu essa oportunidade?
Foi uma coisa muito bacana que me trouxe essa oportunidade de trabalhar nas redes sociais, de estar ali nesse projeto desta forma. Em 2022, comecei a fazer umas experiências com música e humor, mas, à época, isso ficou entre quatro paredes. No ano passado, comecei a colocar algumas dessas brincadeiras nas redes sociais, despretensiosamente, porque sempre levei muito a sério meu lado compositora, o meu trabalho autoral já era em outra pegada. Mas sempre tive esse lugar do humor muito forte na minha vida. Então, como disse, despretensiosamente comecei a colocar essas brincadeiras nas redes sociais, para dividir com amigos, só que aí viralizou de um jeito que eu não esperava, e começou a surgir mais demanda nesse sentido. Isso acabou abrindo algumas portas, como no “Quem Não Pode Se Sacode”, com a Fernanda Paes Leme e a Giovanna Ewbank, onde eu fiz trilha sonora, as vinhetas, foi um trabalho muito legal.
Falando em humor, como ele entra na sua vida? E outra coisa, fale sobre o “Show de Memes”, projeto que você está desenvolvendo para o ano que vem.
Olha, o humor sempre esteve presente na minha vida, desde a infância, era uma maneira nossa de lidar até com as dificuldades, tinha humor, tirava um pouco o que era a realidade do cotidiano. Acontece que com essas esquetes na internet despertou ainda mais o meu lado atriz voltado para o humor, porque, por incrível que pareça, no começo da minha vida como atriz eu sonhava com a atuação dramática, achava que seria um a grande atriz do drama (risos). Eu tinha um vislumbre com essa coisa da “atrizona”, do drama, do épico. Ou seja, eu fui abraçar esse meu lado que sempre existiu, desde a infância, agora, com a internet. E diga-se de passagem, por muitos anos, não era apenas uma ferramenta. Eu julgava, enquanto artistas, a linguagem da internet inferior, olha que doideira. E percebo que explorar mais esses territórios [internet] fez com que eu ampliasse meus atributos como artista mesmo. Até isso, me encontrar mais com a minha personalidade trazendo humor, que sempre estiveram presentes e eu negava um pouco. Daí surgiu o “Show de Memes”, a vontade de fazer um show performático e audiovisual, a partir dessa coisa com a internet. O riso é muito revolucionário, ele engaja, sou suspeita para falar.
E como vai ser o formato desse show?
Vai ser um formato parecido com o das redes sociais, mas claro, com algumas coisas diferentes. Tem a coisa da presença que é muito útil e permite uma interação com o público. Tem o live looping, que é essa construção ao vivo de camadas de performance do arranjo, uma a uma, é interessante, a gente pode conseguir trazer a plateia para uma interação entre a performer, que sou eu, e o público. Sou eu sendo provocada mais uma vez por essa linguagem contemporânea de redes sociais. Eu quero levar isso para o palco também, terá um telão, eu quero ter além do setup que eu uso nos vídeos, essa ferramenta do audiovisual. Acho que vai ser pela primeira vez que faço um show que poderei apresentar esse meu lado de atriz com a música e o improviso. Então acho que tem tudo para ser um grande surto (risos).
E você pretende apresentar esse show pelo Brasil todo?
Pretendo, e quiçá extrapolar fronteiras. Acho que é um show que tem potencial de circular em diversos espaços, estados, situações. É algo que eu quero para ele, que circule.
Em 12 de setembro deste ano estreia o filme internacional gravado em Ubatuba chamado “Meu Amigo Pinguim, e do qual você faz parte, fale sobre ele.
Ele já estreou em alguns países. É um longa dirigido pelo David Shurmann, baseado em fatos reais, que conta a história de um pescador, que perdera um filho, e tem um encontro com um pinguim em uma praia de Ubatuba. O animal estava machucado e o pescador começa a cuidar dele. Essa coisa desse pescador com esse pet virou uma comoção, ele chegou a ser entrevistado por programas da TV aberta. Esse pinguim ajuda o pescador a passar pelo luto da perda do filho. É uma história muito bonita de amizade, um enredo do homem com os animais, eu que sou uma grande amante da natureza e dos pets, acho que é uma história que emociona muito. O filme conta com a direção brilhante de Shurmann e a presença de grandes nomes internacionais, como o Jean Reno e a Adriana Barraza, que faz personagem Maria, a mesma que eu interpreto quando jovem, então foi uma grande honra estar junto com essa galera. Uma oportunidade de aprender e gastar nosso inglês, que a gente não é boba (risos).
E como apareceu essa oportunidade, você foi convidada, fez teste?
Sabe que eu não sei (risos). Surgiu do nada um convite no meu email para fazer um teste para uma personagem, eles estavam procurando artistas que falassem inglês… Eu nem sabia quais eram os nomes envolvidos até aquele momento, mas disse que topava. Fiz, passei e rolou um entrosamento muito legal. Quando eu soube qual era a história, os artistas que trabalhariam, fique muito alegre, feliz. Eu ainda não assisti, estou supercuriosa para ver, mas tenho certeza que está maravilhoso, com a galera envolvida nem dá para ser diferente.
Vem trabalho musical pela frente?
Vem, além do projeto do show com os memes, eu já comecei a gestar um álbum para o ano que vem. Eu sinto que hoje em dia existe uma coisa de fazer com que os artistas lancem coisas todo mês e tal, eu não consigo seguir muito essa dinâmica. Em um ano eu me afasto, me preparo para coisas novas, faço pré-produções e, no outro, lanço. Este ano foi meu período sabático da música, mas o ano que vem me enfio em estúdio.
Como avalia seus dois primos trabalhos como cantora e compositora, “Fragma” e “Maré de Cheiro”?
Cara, eu sinto que “Fragma” foi uma primeira aproximação minha com a artista que eu descobri que era. Eu já sabia naquele momento quais eram as minha influências, os meus desejos, mas eu sinto que ainda estava me descobrindo. Embora eu ame esse trabalho, o resultado dele, até porque ele faz parte da minha história, eu percebo que em relação ao “Maré de Cheiro”, que é meu álbum de estúdio mais recente, o quanto eu ainda não estava tão madura em alguns quesitos, de modo que eu sinto que nesse segundo disco eu estou mais madura mesmo, essa é a palavra. E é um trabalho que veio em um momento assim, onde esse processo de autoconhecimento já estava mais verticalizado, não só do ponto de vista profissional, mas como compositora, produtora, cantora, porque eu queria cantar. E tem essa característica da brasilidade mais presente nas músicas, dos ritmos regionais, da MPB. A história da minha família não tem como negar, e a influência que isso teve no meu desenvolvimento profissional. É uma história muito atrelada às influências das músicas negras norte-americanas que a gente faz aqui no Brasil, isso também permeou muito o meu referencial, de modo que você percebe ali no “Fragma”. Hoje a Amanda Magalhães compositora e cantora quer cantar aqui, no Brasil, o que ela vive, o que vê, como sente. Tudo está muito mais atrelado com a nossa cultura mesmo. Também tem a coisa da virada de chave dos 30 anos, estou nova ainda, mas percebo o que sou. Eu saquei quem eu era cantando no “Maré de Cheiro”.
Neste ano você vai continuar fazendo shows?
Vou continuar fazendo shows, vou tocar no dia 18 de agosto no Edifício Martinelli (SP), ao mesmo tempo nós estamos em um momento de recalcular rotas em termos de circulação, porque como estou com esses projetos embrionários que estão começando a tomar corpo, estou em uma imersão, mas esse contato como público é muito importante para alimentar a gente.
Como você avalia a presença negra no audiovisual?
Eu acho que a presença negra no audiovisual é um processo em construção, tanto na frente como por trás das telas. A gente percebe de uns anos para cá um aumento nessa representatividade, ambientes mais diversos, a gente percebe que nem sempre isso parte de um lugar genuíno de conscientização, às vezes é para cumprir tabela mesmo, mas se na prática os efeitos são os mesmos a gente está aqui para fazer e estar no game, então que assim seja. Ao mesmo tempo, como a otimista incurável que sou, independentemente de qualquer motivo que venha por trás, a tendência é que com o tempo isso mude. Que a gente tenha diversidade não só falando sobre a cor das pessoas, etnia, representatividade negra, mas de gênero. A gente tem longos caminhos para percorrer, mas eu acho que o olhar para a diversidade já começa a surgir mais preocupado por parte das produções.
O que te encanta mais a atriz ou a musicista?
Eu tenho fases, ciclos onde estou mais focada em um lado, outras vezes, em outro. A vida também vai demandando que a gente coloque mais energia aqui ou acolá. Eu tenho dificuldade de dar esse preferencial, porque são coisas muito diferentes, a atuação mexe comigo de um jeito e, a música, de outro. Tenho me divertido muito unindo os dois, é impressionante como trabalhar com as redes sociais tem sido uma grata surpresa. Tem me mostrado mais sobre mim e com a possibilidade de trabalhar com essas potências, sabe, integrar, e não agir como se uma coisa fosse separada da outra, como eu vinha fazendo antes.
Você acha que as redes sociais são um canal para os artistas se colocarem social e politicamente?
Com certeza. Acho que é um lugar onde os artistas podem se colocar de todas as formas. Acho que não é um lugar para todos, e, ao mesmo tempo, pode ser muito excludente também. É louco isso. Não é um lugar que visibiliza todo tipo de produção artístico-cultural, que invisibiliza muitos discursos. Temos aí o algoritmo que gosta de evidenciar aquilo que polemiza… Ele tem os gatilhos dele para entregar mais de um ou de outro produtor de conteúdo. Para mim é muito bom, eu sou muito grata às redes sociais por isso, mas eu tenho a consciência de que não é só importante a gente se colocar social e politicamente, mas também ter esse olhar para a fazer debate enquanto pessoas da arte, perguntar-se que papel isso está tendo com a gente, as redes sociais, digo.
Você já passou algo com hater?
Ainda não. A gente faz muita terapia (risos), então eu torço para que esse momento – quando e se chegar – eu lide bem. Mas eu tenho consciência que eventualmente esse momento possa chegar.
E tem algum sonho na música ou na carreira de atuação que você gostaria de realizar?
Eu sinto que eu tenho realizado meus sonhos, ajudar minha família, pagar minhas contas. Eu já tive muitos sonhos, inclusive grandiosos… Essa mania de grandeza eu sinto que depois dos 30 anos também se foi. Eu penso a curto e médio prazo, penso: “Quero levantar meu show, e fazer isso”. Quero que a galera se divirta e curta comigo. Tenho o que é preciso e necessário, fiz gol. Meu sonho é ter saúde e continuar fazendo o que gosto e me faz feliz, com sustentabilidade, sempre de forma sustentável.