“’Ègbé ọ̀ run Ẹgbẹ́ àiyé‘ (Sociedade do céu, sociedade da terra) é uma crença que reconhece a interconexão entre o plano espiritual e o plano material. Quando decidimos encarnar no planeta Terra, nascemos no plano material, deixando para trás as memórias do plano espiritual. O plano espiritual é como um espelho da sociedade que conhecemos no plano material. Na crença de Egbé Orun, acredita-se que as pessoas no plano terrestre mantêm laços com amigos e familiares do plano espiritual, buscando uma perspectiva de Bem Viver, com a celebração da vida como questão central. No Orun, possuímos familiares, amigos, inimigos, pais, filhos, carreiras, objetivos e até promessas. Ao decidirmos descer para o Aye, nesta vida e neste corpo, fazemos um acordo de esquecimento, deixando para trás as memórias do plano espiritual”, explica o artista Kelton Campos Fausto, que ganha exposição a partir de 23 de novembro na galeria A Gentil Carioca, das 18 às 23h.
Para o curador, Matheus Morani “Kelton Campos Fausto (1996, São Paulo, Brasil) compreende o seu trabalho de arte como um ponto de indução e criação a espaços espirituais, conjurando outras formas e percepções de vida por corporalidades que somente existem implicadas ao que também é incorpóreo. Em sua obra, a artista vai de encontro a disrupção entre o que é material e imaterial através das relações entre os campos terreno e espiritual segundo a cosmologia iorubá, propondo uma desorientação da razão para nos abrirmos à sensibilidade, ao mistério e ao indizível que nos envolve. Trabalhando principalmente a partir do contexto da grande metrópole paulista e tendo nascido e crescido na Brasilândia, na zona norte do município de São Paulo, o artista nunca perdeu de vista que, embaixo desta dura ficção de concreto que experienciamos todos os dias, existe a terra da qual viemos e para onde vamos. Desde 2017, vem desenvolvendo práticas com vídeo, pintura, cerâmica, direção de arte e performance nos campos das artes visuais e da moda, que convidam o público a repensar suas formas de vida como corpos elementais de terra, abordando a dimensão espiritual pelos Itans que relatam as origens dos seres e as suas relações de coexistência e interdependência. Sua exposição individual n’A Gentil Carioca apresenta o mais recente recorte da sua extensa pesquisa ao contexto do Rio de Janeiro, onde Kelton dá a ver as muitas camadas sobrepostas de energia entre o Aiye e o Orun para fazer brotar novas formas de vida, apesar de solos marcados por um passado colonial e por um presente de grande complexidade social e ecológica”.
A Gentil Carioca – Rua Gonçalves Lédo, 11, sobrado, Centro, Rio de Janeiro, SP. Até 1º de fevereiro de 2025.