Quando o assunto é forró, o nome deles aparece logo em destaque: Mariana Aydar e Mestrinho. A dupla forrozeira agora aparece com um álbum inédito em que leva para o público narrativas de amor e liberdade, com muito ritmo e música boa para dançar e cantar. A junção deu muito certo, e o novo trabalho, “Mariana e Mestrinho”, é uma grata surpresa àqueles que são amantes do gênero, e até para os que conhecem pouco o ritmo.
Com dez música que passeiam por clássicos e novidades, o álbum oferece uma vasta quantidade de temas que permeiam o dia a dia, sempre cantadas de forma leve e divertida. Em “Até o Fim”, por exemplo, um nome chama muito a atenção, o de Gilberto Gil, convidado pela dupla para colocar voz na canção, e o resultado é uma harmonia perfeita entre os três artistas.
Outro destaque fica com “Boy Lixo”, música escrita também por Mariana Aydar e que expões de forma divertida as pisadas na bola daqueles que são rotulados como boy lixo, devido a suas ações pouco ortodoxas quando o assunto é mulher. Composta em parceira com Fernando Procópio e Tinho Brito, a canção é um chamado às mulheres para que fiquem atentas a seus relacionamentos, e que se livrem daquilo que não cabe em suas vidas. Mariana impõe sensibilidade e humor à interpretação, que é considerada pela dupla como mais uma das apostas de música de trabalho.
O disco realmente pede atenção e muita disposição, são músicas alegres que contemplam o dançar e o cantar, a alegria, o São João, o Carnaval. Vai muito além de um disco ele forró, “Mariana e Mestrinho” é um aglomerado de referências importantes do gênero e um trabalho que certamente vai dar muito o que falar. E já está dando, “Te Faço um Cafuné”, música do álbum que está sendo lançado nesta quinta, (04.04) está na trilha sonora de “Renascer” (Globo).
Quer ver ao vivo? Em São Paulo, eles fazem dois shows, nos dias 12 e 13 de abril, na choperia do Sesc Pompeia. No Rio, dia 24 de maio, no Circo Voador. Imperdível.
Leia a seguir o papo que CHNews teve com Mariana e Mestrinho.
Como surgiu a ideia de fazer esse trabalho juntos?
Mariana Aydar – Olha, a gente se conhece há muito tempo, eu e o Mestrinho, a gente se reconheceu por causa do Dominguinhos, e o nosso amor por ele e pelo forró permeia essa relação. Nós começamos a tocar juntos em vários lugares, e as pessoas achavam que nós éramos uma dupla (risos), deu liga o nosso som juntos. E nós começamos a fazer muitos shows juntos, com essa afinidade musical que nos envolve. Apesar disso, não tínhamos um registro sonoro e achamos que tinha chegado a hora.
Mestrinho – Sempre ouvia, vou contratar o show do Mestrinhho, mas queria a participação da Mariana. Ah, eu queriam show da Mariana, mas queria a participação do Mestrinho, então, mais do que a nossa afinidade musical, as pessoas perceberam isso. Resolvemos fazer um registro sonoro. Para nós tem sido muito gratificante.
Qual foi o critério que vocês usaram para a escolha das músicas?
Mestrinho – Primeiramente, nós defendemos muitas causas. A Mariana dando voz cada vez mais ao feminismo… Nós escolhemos muitas músicas para chegar nessas que estão no álbum. Cada música fala de algo, do amor livre, feminismo, do amor eterno, independentemente de estar com a pessoa ou não. Nós queríamos defender algo através do gênero forró.
Mariana Aydar – A gente quis atualizar algumas narrativas dentro do forró. Principalmente dentro dessa ótica da mulher… É muito difícil achar músicas em que a mulher é protagonista dos seus desejos, das suas palavras, da sua vida mesmo. Então essa música a gente teve que ir atrás, compor, encomendar. Quisemos dar luz a músicas que mesmo a gente de dentro do forró, mesmo pesquisando, a gente é sempre surpreendido por novas canções. A gente trouxe , por exemplo, “Cheguei para Ficar”, que abre o disco, desse elo do Dominguinhos e da Anastácia, que é muito importante a gente falar, da importância dessa compositora, ativa até hoje aos 83 anos. Uma mulher que na época compunha quando outras não o faziam, e a maior parceira de Dominguinhos. Uma música que fala de amor, e que une muito esse disco. Nossa intenção é mostrar esse amor eterno, música também é amor. Como essa música linda que o Mestrinho compôs, “Até o Fim”, e que o Gil (Gilberto Gil) gravou. A ideia da escolha das música era trazer alguns clássicos do forró, assim como algumas novas narrativas.
Como surgiu a ideia de gravar com Gilberto Gil?
Mestrinho – Gilberto Gil é um companheiro de muitos anos, eu comecei a tocar com ele quando tinha 19 anos, e quando eu capuz essa música, “Até o Fim”, que é de uma vivência minha, só vinha Gilberto Gil na minha cabeça, eu já tinha conversado muito com ele sobre as coisas, e, como ele diz nos shows, o amor não acaba nunca. O amor se transforma, mas ele está ali sempre. Quando eu vivi esse amor que Gil tanto falava, só me veio ele na cabeça, pessoa de quem ouvi pela primeira vez sobre esse amor. Nós convidamos ele por ser uma pessoa que tem propriedade para falar disso. Eu admiro ele tanto quanto admiro Dominguinhos. É um sonho realizado ter o Gil nessa música, porque tem tudo a ver com ele.
Mariana Aydar – É uma honra imensa, é uma lenda viva, um orixá.
Mariana, é a primeira vez que você grava com o Gil?
Mariana Aydar – Sim, é a primeira vez que que gravo com ele. Eu já tinha cantado como Gil, ele cantou no primeiro ano do meu bloco aqui em São Paulo, o Bloco Forrozin, ele apadrinhou, digamos assim, o bloco. No vídeo, vendo depois o making of, eu só chorava, não acreditando no que estava acontecendo, porque escuto ele desde que nasci, é minha referência.
Podem contar um pouco sobre “Boy Lixo”? Achei a música divertida.
Mestrinho – É exatamente isso, uma música falando de uma coisa séria de forma divertida.
Mariana Aydar – Essa música eu fiz para uma amiga, que estava com um boy lixo…Atire a primeira pedra quem nunca esteve com um boy lixo. É uma música que todas as mulheres vão se identificar. Nós quisemos trazer para o forró um tema que não é muito comum, mas com a linguagem do forró, que é o de trazer temas muito importantes de forma leve e engraçada, o forró tem esse recurso. A gente usou isso para levantar um tema que eu acho ser muito importante, levantar essa bandeira, falar das responsabilidades afetivas, trazer as narrativas do boy lixo, daria para fazer um disco inteiro sobre o tema (risos), e junto com esse dois parceiros incríveis, que é o Fernando Procópio e o Tinho Brito, de quem eu já havia gravado a música “Na Boca do Povo”. E eles são cariocas, então tem essa coisas do partido alto, esse forró meio sambado, meio Jackson (do Pandeiro).
“Te Faço um Cafuné” está na trilha da novela “Renascer”, como foi isso para vocês?
Mariana Aydar – Ah, uma alegria imensa, né? Eu conheci essa música através do Mestrinho, quando ele tocou essa música eu fiquei querendo só saber dela, só cantava ela. É uma música muito importante para nós, que furou bolhas, talvez seja uma das músicas mais importantes da minha carreira, que nos levou a muitos lugares, e a gente nunca tinha gravado juntos.
Mestrinho – Felicidade, né? Ver essa música chegar onde está chegando, em uma novela, isso de certa forma é uma realização para mim. O fato de a Mariana estar feliz com essa música é a minha felicidade também. Essa música podia ter ficado lá nos anos 1990, quando foi gravada, mas hoje, em 2024, ela está em uma novela. Quando Mariana disse que ia gravar, eu fiquei muito feliz, porque além da força que a canção tem, sabia que ela ia chegar a muitos outros lugares.
E a música “Eu Vou”, Mestrinho?
Mestrinho – “Eu Vou” é uma música que eu compus para levar alegria para as pessoas, é uma música muito alegre, para curtir… É uma música que você pode se lembrar da festa de São João, do Carnaval, uma música que você pode estar se divertindo à beça com os amigos. Eu vi essa mensagem que é muito importante, falando sobre a liberdade, a liberdade que as pessoas têm que ter na vida. As pessoas rotulam como deve ser um relacionamento, e eu acho que a pessoa deve se sentir bem ali dentro. Nessa música eu falo sobre isso, sobre o amor livre.
Qual será a próxima música de trabalho?
Mariana Aydar -Acho que “Até o Fim”, música do Mestrinho que o Gil participa. Acho que é uma forte candidata a ser uma música de trabalho.
Mestrinho – A gente está meio que deixando o mundo escolher, de certa forma. Nós vemos muito esse potencial em “Até o Fim”, mas também em “Boy Lixo”, que busca despertar uma consciência. De repente vai um boy lixo e escuta essa música e pensa: “Eu faço tudo isso”, “Realmente, eu sou um boy lixo”. Essa música tem a coisa da leveza, e quando você escuta sente que fala de um assunto sério de forma divertida. Acho que essa música tem potencial de tocar o coração até de um boy lixo (risos).
Pretendem fazer shows juntos? Se sim, quando?
Mariana Aydar – Temos os primeiros shows agora, dia 12 e 13 na choperia do Sesc Pompeia, em SP, e dia 24 de maio no Circo Voador, no Rio.
Vocês têm ideia de levar o álbum para além do território nacional?
Mariana Aydar – Olha, a gente está aberto a tudo. O forró tem se expandido muito, lá fora existem vários festivais de forró, Mestrinho já tocou em vários, no ano passado eu fui para Portugal, neste ano estou indo para Berlim (Alemanha) de novo. O forró está tomando um lugar fora do país que a gente nunca viu, muito por conta dos professores de dança que levaram o ritmo para fora, então a dança levou a música. Não é um show para brasileiros, claro que há brasileiros… Eu fiquei muito emocionada vendo as pessoas de outros países consumindo a nossa cultura, a nossa música, nossa dança, eu dancei muito com estrangeiros e estrangeiras, foi impressionante.
Mestrinho – Eles estão consumindo essa cultura, é muito bonito de se ver.