Depois de ficar famosa ao transformar a Chloé e a Celine, a designer Phoebe Philo ficou afastada da indústria da moda por quase sete anos até fazer seu retorno no final do ano passado com sua tão esperada marca homônima. Quase todas as peças esgotaram em algumas horas e a empreitada foi um sucesso absoluto, até que começaram reclamações sobre os preços – a média de preço de uma bolsa é US$ 5 mil, e as peças mais caras são casacos de US$ 25 mil – e sobre a dificuldade para retornar produtos e provar as peças – por enquanto, a loja funciona exclusivamente online. Agora, depois de uma década sem fornecer entrevistas, Phoebe Philo decidiu quebrar seu silêncio com uma entrevista à jornalista Vanessa Friedman, do The New York Times.
“Eu falo a maior parte do que sinto, e a maior parte do que vale a pena dizer, por meio do que eu faço”, afirma. “Não sinto que seja preciso fazer muito storytelling. Acho que simplesmente não é necessário. Até certo ponto, ou você gosta ou não. Alguém me contar uma história não vai me fazer gostar mais. É um casaco. Um par de calças. Eu gosto de ir direto ao ponto.”
Veja os destaques:
Sobre peças limitadas:
“Pode ter existido uma expectativa de que eu iria oferecer tudo para todo mundo imediatamente. E isso simplesmente não é possível. Leva tempo e esforço para fazer a maior parte das coisas que têm significado.”
Phoebe enxerga seus lançamentos como uma coleção contínua e não acredita em estações, por isso prefere chamar de “edições” e as divide em “entregas”. Muitas pessoas acreditaram que isso era uma estratégia para criar FOMO (do inglês, “fear of missing out”, ou “medo de ficar de fora”, em tradução livre). No entanto, ela explica que o objetivo era criar uma base de dados para entender o quanto ela precisaria produzir para satisfazer seu público sem resultar em estoque para liquidar. A outra intenção era encorajar os consumidores a montar um guarda-roupa aos poucos, ao longo do tempo.
Sobre consumo consciente:
“Eu ainda uso roupas que tenho há 20 anos. Minhas calças preferidas são da Chloé, que eu fiz. Essas peças são importantes para mim. Não quero me livrar delas. Então, o que temos agora é o resultado de um trabalho feito durante mais de um ano.”
Sobre seu processo criativo:
“É muito intuitivo. É uma resposta ao que vejo ao meu redor, como vejo as mulheres se vestindo, como me sinto, minha relação com as roupas.” Ela não prova todas as peças que produz, mas pensa: consigo me imaginar usando? Vai ser confortável? Como me sinto?
Sobre os preços altos e outras críticas:
“A intenção realmente é fazer peças que durem. Elas têm que ser bem feitas, e isso tende a custar um preço [alto].” Ela e sua equipe estão trabalhando para melhorar a política de trocas, oferecer mais formas de pagamento e alertar os inscritos via e-mail quando uma peça que eles gostem voltar ao estoque. Os valores também devem ser ligeiramente aliviados conforme mais peças forem lançadas.
Sobre a indústria da moda:
“Rapidamente, percebi que trabalho era algo de que eu precisava, e acho que sempre senti que voltaria a fazer algo na moda.” Mas ela não queria voltar para o que já tinha feito antes. Na maior parte das grandes casas de moda, o trabalho dos designers se resume a criar coleções para as passarelas. Eles não supervisionam campanhas de marketing ou o design das lojas, e Phoebe queria colocar as mãos na massa em todos esses processos.
Atualmente, ela e o marido Max Wigram são os donos majoritários da marca – o grupo LVMH tem participação minoritária -, que conta com cerca de cem funcionários. Ela está envolvida até em etapas como alugar salas e comprar móveis para o escritório.
Sobre desfiles e loja física:
Até o verão no hemisfério norte (entre junho e setembro) ela espera ter aberto um espaço físico, que pode ser temporário ou não, em Nova York e depois em Londres. Ela não descarta a ideia de um desfile, mas afirma: “No mundo de hoje, há muitas marcas de moda grandes, e eu tento me lembrar que a maior parte das grandes casas começou com um ser humano que tinha uma ideia do que queria fazer”.