Por Flávia Barbosa
Podemos até começar a descrever essa série dizendo que se trata da história de um grupo de amigos que não acredita que a vida é só encontrar o seu grande amor, casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Mas isso seria falar apenas sobre a perspectiva dos homens.
E quem é que quer assistir uma série enaltecendo um bando de chauvinistas? Calma.
“Fim” é muito mais do que isso. Um relato sobre a vida, contada por aqueles que acabaram de partir dessa para uma melhor. É na verdade uma trama sobre cinco homens e quatro mulheres que vão morrendo e por isso se chama “Fim”. Drama? Um pouco. Vamos chamar de tragicomédia, pois ao mesmo tempo que você se diverte e ri dos comportamentos lamentáveis de cada um, é um verdadeiro epitáfio do macho.
O relacionamento dos personagens se dá ao longo de 4/5 décadas, uma geração que teve “seu fim em vida”.
Baseado no livro homônimo de Fernanda Torres, que também é roteirista e atua no seriado, ela cria um ambiente quase que “Rodrigueano” (Nelson Rodrigues) falando sobre a vida da classe média de Copacabana, uma gente careta e sem graça que é impactada pelos aos 70 e 80 que chegam como um furacão!
Mas falemos das grandes protagonistas: as mulheres. E essas sabiam o que da vida nessa época? Uma vida que não fosse afetiva, mirando no casamento, romantismo, cara metade, no tempo que o machismo “era” liberado. Digo “era” porque, assistindo hoje, dia ainda vamos nos identificar com comportamentos machistas no mesmo estilo.
A série se divide em fases, no começo, a juventude, onde tudo são flores e diversão, a busca do amor romântico. Em seguida vem a chegada da maturidade onde a vida real se apresenta difícil, especialmente para as mulheres, que acreditavam que seus casamentos eram contos de fada; e finalmente a velhice, onde vem os arrependimentos, a autocrítica, os segredos e a sensação de que tudo poderia ter sido resolvido com diálogo. Por que não puxar uma cadeira, sentar e abrir o coração? A falta da conversa mata. É o que parece matar um por um até o final.
Com a direção de Andrucha Waddington e Daniela Thomas o processo de filmagem começou em 2019 e parou em 2020 com a chegada da pandemia. “Foi um fim dentro do ‘Fim’”, afirma a diretora.
Uma curiosidade: os diretores optaram por arriscar usar os mesmos atores do início ao fim. Rejuvenescer e envelhecer o elenco a base de perucas e maquiagem, sem contar com o jogo de luz. A responsável pela caracterização, Lu Moraes, disse que foi um grande desafio, que já havia feito vários projetos de rejuvenescimento e envelhecimento, mas nunca com tantos protagonistas juntos. Pois missão cumprida! A maquiagem, figurino, luz, fotografia foram entregues com excelência. E por falar em excelência, o que dizer do elenco? Todos, sem exceção, se transformaram naquelas pessoas, dando de tudo por seus personagens.
Marjorie Estiano parece ter incorporado sua personagem Ruth com toda sua força e talento, uma performance de arrepiar.
Uma personagem que acabou ganhando um grande espaço na série foi Suzana, vivida pela atriz Tainá Medina, que roubou a cena literalmente.
Para terminar, dessa vez não sei se aconselho tirar o final de semana para maratonar esse seriado. Diria: vá com calma, absorva tudo, os pequenos detalhes, os brilhantes diálogos e a trajetória desses amigos que no fundo, no fundo, faz com que nos identifiquemos com eles, pois afinal, somos todos humanos passiveis de erros e acertos. Do começo ao fim.