Que ela é ótima atriz, todo mundo sabe. Que faz rir adoidado, também não é novidade, afinal são 25 nos de uma carreira consolidada. Mas tampouco o fato de cantar muito é algo desconhecido. Ela já apareceu cantando e deu show. Atualmente morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, Samantha Schmütz desenvolve um trabalho musical ao lado do produtor norte-americano Adrian Younge, cujo resultado é um álbum (ainda sem nome) com nove músicas compostas pela dupla e que já teve uma mostra com a estreia de “Nossa Cor”. “‘Nossa Cor’ foi a primeira música que eu fiz com ele (Adrian). Está nessa coletânea que ele lançou, que tem participações de várias pessoas. Inclusive, tem um feat dele com o Snoop Dogg. ‘Nossa Cor’ é uma balada romântica, simples, mas também com muita profundidade, muito sentimento”, conta. A gravação aconteceu em Los Angeles, de forma totalmente analógica, com uma orquestra de 30 músicos, regidos pelo produtor.
O investimento na área musical é sua mais nova e importante empreitada. Como atriz, ela é respeitada e tem uma carreira consolidada e com muitos fãs. Competente e divertida, Samantha pode ser vista diariamente no humorístico “Vai Que Cola”, que passa nas madrugadas na TV Globo, além do Multishow. Mas se a vida como humorista já lhe garante sucesso e estabilidade, nada disso foi o suficiente para que ela se aquietasse e visse o tempo passar. Muito pelo contrário, como ela própria diz, não é do tipo que fica esperando. Prova disso foi sua mudança, em 2022, para Los Angeles, a fim de trabalhar sua música. Atualmente, ela vive entre Brasil e EUA e mantém seus negócios ativos.
O álbum, que vai ser lançado em 2025, deve vir com nove músicas, cantadas em português e inglês, todas compostas por Samantha e Adrian. “Estou com um tesão de correr do começo mesmo, de começar de novo”, diz. Afora a música, ela gostaria de ter mais papéis fora do humor e quem sabe encenar um Nelson Rodrigues. “Tenho muita vontade também de fazer uma peça aqui na Broadway”, conta. Agora é esperar o disco e aproveitar para escutar música boa, na incrível voz de Samantha Schmütz.
Leia a seguir o papo que CHNews teve com Samantha via Zoom.
Sei que você estudou artes cênicas, mas o que te levou a isso? O que te levou à arte?
Minha mãe, bailarina, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, dançou com o Rudolfo Nureyev, Margot Fontayn. Então já cresci, já nasci vendo a minha mãe com uma excelência e um nível de disciplina e qualidade de trabalho com a referência do balé clássico. E ela tinha um grupo de dança. Depois que eu nasci, quando eu tinha uns cinco anos, eu sempre ia aos ensaios com ela. Um dia ela olhou para mim e eu estava imitando a coreografia. Aí ela perguntou se eu queria participar. Falei que não, disse que tinha uma ideia. Eu já fui dando ideias para ela. O break estava chegando no Brasil nos anos 1980, e aí eu falei para ela que eu queria dar corda (como em bonecos), que eu queria que os bailarinos parassem e eu daria corda e eles começariam a dançar break. Comecei a fazer parte do grupo e minha mãe me colocou nas aulas de balé, sapateado e jazz. Posso dizer que comecei através da dança. Com 14 anos fui fazer um curso de teatro em Niterói, com o grupo Papel Crepom. E com 16 anos fui para a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Assim que eu saí do colégio, eu falei, ah, é o palco que eu quero, mas eu não tinha disciplina para ser uma bailarina. E não aguento a dor física que o balé propõe. Eu queria estar no palco, mas de uma maneira mais suave. Então eu comecei a fazer teatro e a estudar canto ao mesmo tempo.
Escuta, como que você vê a comédia no Brasil hoje? E qual foi o maior desafio que você teve ao longo da sua carreira como humorista?
Eu acho que a comédia… O Brasil ama comédia, o Brasil, as pessoas são bem-humoradas, a gente é solar, a gente se identifica muito com a comédia, não à toa que as comédias são as maiores bilheterias de cinema, as peças de comédia, elas funcionam. E eu acho que eu dei tão certo que eu dei errado, que eu só consigo fazer comédia. Raríssimas vezes me dão oportunidade de fazer uma outra coisa. Porque, assim, com raríssimas exceções, fora os diretores que ousam me dar essa oportunidade, se arriscam, né? Às vezes em que isso aconteceu foram bem-sucedidas, como em “Manhãs de Setembro” (Prime Video), que o Luiz Pinheiro me chamou, e no “Carcereiros” (Globoplay), que eu fiz a mulher de Othon Bastos. Acho que o desafio é esse, ficar estigmatizada, né? Sempre ficar muito forte na comédia, o que é ótimo, maravilhoso, mas tem sempre os dois lados da moeda.
E você tem vontade de fazer outras coisas? Sei lá, fazer mais cinema, por exemplo?
Sim, tenho projetos, tenho planos, não sou a pessoa que fica esperando só ser convidada. Sempre fui aquela artista que produziu as coisas, minhas peças, meus projetos, então, tenho também tido convites de pessoas, sabe? De outras coisas. Tenho tentado balancear, amo trabalhar, então, eu quero fazer de tudo.
Você transita super bem entre teatro, TV, cinema, música, qual dessas áreas mais desafia você como artista?
Acho que a música, pelo fato de eu ser muito conhecida já como atriz. E principalmente comediantes. Então, as pessoas me ouvem com os olhos. É difícil para elas só me ouvirem. É uma coisa que está acontecendo comigo aqui nos Estados Unidos. As pessoas – como não têm uma visão formada em relação a mim -, estão me escutando com os ouvidos. Aqui a música está fluindo mais para mim, gravei um álbum. Vou começar a fazer uma residência, fazer um show aqui num lugar que é tipo um Soho House, chamado Living Room, que está super em alta. Tem várias pessoas legais tocando. Outro dia, a Erykah Badu foi a DJ. Então, o caminho que eu estou fazendo aqui na música está sendo bem legal.
Eles fazem essa curadoria e trazem artistas do mundo inteiro. A gente se conheceu, eu e o Adrian, e comecei a trocar meus materiais com ele, a mandar as minhas coisas cantando. E o que pegou para ele foi eu cantando com o Criolo, o pot-pourri da Elis (Regina) e do Jair (Rodrigues), que eu canto no meu programa “Samantha Canta”, no Canal Biz. Ele me chamou para fazer a turnê com o Verocay, porque o Arthur Verocai vinha para cá para fazer uma turnê. Cantamos aqui em Los Angeles, Chicago, Nova York, a gente cantou no Lincoln Center. Foi, tipo, icônico. E com essa convivência, sabe? O Adrian é apaixonado por música brasileira e gravamos de forma analógica, não tem um computador envolvido. Ele fez as melodias. E a orquestra tem 30 músicos. É uma coisa bem grandiosa, bem chique. Depois nos reunimos para fazer as letras. “Canetamos” o disco em três dias. E na semana seguinte, a gente gravou, botou a voz.
Me conta sobre a música “Nossa Cor”.
“Nossa Cor” foi a primeira música que eu fiz com ele (Adrian). Está nessa coletânea que ele lançou, que tem participações de várias pessoas. Inclusive, tem um feat dele com o Snoop Dogg. É uma balada romântica, simples, mas também com muita profundidade, muito sentimento. Quisemos fazer de um jeito que a voz não se sobrepusesse aos instrumentos. E eu tenho chamado de MPB, mas de “Música Psicodélica Brasileira”. Acho que a gente teve muita liberdade para fazer esse disco, fazer essa música. Me senti muito livre, porque ele queria o que estava dentro de mim. Eu sou muito crítica, sabe? Então, às vezes, eu ficava pensando como eu escreveria para essa orquestra? Trinta músicos maravilhosos. Deixei sair o que tinha dentro do meu coração para eu falar, de experiências, de imaginações, de criação, foi muito livre.
E quais são as suas principais influências musicais? O que você gosta de ouvir?
Cresci ouvindo Tina Turner, Beatles, Elis Regina. Aqui eu sou muito fã da Lauryn Hill, da Erykah Badu. Gosto muito dessa cultura, só música boa, de jazz. Acho que meus pais me influenciaram, meu pai mais rock and roll, Creedence Clearwater Revival. Já minha mãe, uma coisa mais Michael Jackson, Tina Turner, Diana Ross. Então, sou bem eclética, mas eu fui, tive a sorte de ser apresentada à boa música. O primeiro show que eu fui na vida, eu tinha 4 anos, foi da Rita Lee.
Como que você descreve sua conexão com o jazz e os outros gêneros musicais que você canta?
Olha, eu não sou uma CDF que vou te dizer que no disco do Stan Getz de 1967, na faixa 2… Eu não sou essa pessoa, mas eu sou uma pessoa que escuto muita coisa e quando a música me toca, esse é o gatilho do meu envolvimento. Agora eu comprei uma vitrola, um móvel que vem uma vitrola junto, bem legal, e vou me afundar nessa pesquisa, que tem muita loja de vinil aqui. O próprio Adrian tem uma loja de vinil, sou uma artista muito prática.
Você tem planos de lançar algum álbum no Brasil, especificamente, para se lançar como cantora?
A gente lançou o single “Nessa Cor” agora, ela faz parte também do álbum que estou fazendo com o Adrian, então a gente vai lançando singles durante o ano que vem, mais uns quatro, e aí a gente lança o álbum com nove músicas, no segundo semestre.
E qual o nome do álbum?
A gente não tem o nome do álbum, na verdade é Samantha e Adrian. Estamos criando uma identidade para o disco, onde a coisa é meio atemporal, tanto imagética como sonoramente, quisemos criar um mundo que você não sabe em que tempo está, meio máquina do tempo. É um som moderno, mas ao mesmo tempo com muita referência do passado.
E você compõe músicas sozinha?
Eu compus algumas sozinha e algumas com ele (Adrian). Tem sete músicas em português, uma híbrida, em português e inglês, e a outra em inglês.
E vocês pretendem fazer algum tipo de lançamento aqui no Brasil?
Ah, sim, a gente quer fazer não só shows aqui, como no Brasil também, a gente tem esse planejamento de apresentar esse disco para o Sesc, fazer shows aí, onde tem a ver.
Como que você acredita ser o papel do artista no cenário político-social?
Eu acho que quando você tem voz, precisa usar, tem um microfone, tem um lugar de destaque, está sendo visto, acho que ele tem que se preocupar com as coisas ao redor, que podem ser melhoradas, pensando no bem coletivo, no bem comum, no bem da sua classe, digo, profissional. Sou a pessoa que tem esse espírito que resolve, entendeu? Eu cheguei aqui nesse prédio, aqui em West Hollywood, e já virei a síndica, porque já consertei várias coisas. E os vizinhos me agradecem, ai, Samantha, faltava você no prédio para reclamar, para cortar a árvore, para não sei o quê, ligar a fonte que é linda e estava desligada. Acho que o artista tem que ser essa pessoa. Tenho essa vocação de querer resolver, de mudar, de ver o que está errado, mas numa coisa de justiça mesmo, pelo bem comum. A gente tem que ter responsabilidade, cuidado, mas acho essencial, para mim não é dissociável o artista e a política. É uma ferramenta.
E já pintaram haters para você?
Ah, sim, né? Super. Mas, hoje em dia, eu chego à conclusão que se você não tem hater, é porque não está acontecendo, está andando na maré muito tranquila. E, tipo, não dá para agradar todo mundo.
Mas você é do tipo que responde, tal, ou não?
Eu acho que em épocas mais inflamadas, perto de eleição e pandemia, quando talvez eu tenha ficado mais radical, porque eu achei que ia acabar o mundo. Falei, bom, já que vai acabar, né? Naquele momento, lutei como eu achei que tinha que lutar para um caos que estava estabelecido. Uma política negacionista, pessoas morrendo. Sou passional.
O que vem pela frente, tem alguma coisa que você gostaria de fazer ainda como artista e como pessoa? Algum personagem, de repente?
Eu tenho muita vontade de fazer Nelson Rodrigues, sabe? Tenho muita vontade também de fazer uma peça aqui na Broadway. Ai, tem muita coisa que eu quero fazer. Me sinto, agora, principalmente, agora, nesse momento que estou aqui, uma tela branca. Estou com um tesão de correr do começo mesmo, de começar de novo. Estou querendo me conectar com uma menina de nove anos, que fez o meu primeiro teste da TV, que foi com o Maurício Sherman, que depois me levou para o “Zorra Total”, quando eu tinha 20 e poucos anos.
E você tem planos de voltar para o Brasil?
Sempre volto para o Brasil porque tenho um público muito fiel. Tenho muito trabalho aí no Brasil. Minha família está aí, mas eu realmente quero ficar mais tempo aqui nos Estados Unidos, aqui em Los Angeles.
Trabalhando com música?
Trabalhando com tudo, tentar atuação também. Estou deixando as coisas evoluírem. Eu não estou aqui desesperada, ansiosa. Eu estou calma, até para não pegar qualquer coisa, sabe?
Você participaria de um reality show?
De jeito nenhum.
Por quê?
Porque não me interessa. Quero mostrar a minha arte. Não quero mostrar eu tomando banho, sabe? Acordando descabelada, fazendo um ovo e tendo que brigar com quem deixou a esponja suja na pia. Não, não quero