No dia 28 de novembro, uma nova atração será inaugurada em Campos do Jordão, a cerca de 170 km de São Paulo: o Carde, um museu incrível que combina carros, arte, design e educação. Parte da Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA), o espaço está localizado em uma área preservada de floresta de araucárias, no bairro de Boa Vista, a dez minutos do centro da cidade. Com uma estrutura de 6.000 metros quadrados, o museu conta com uma coleção rotativa de cerca de cem carros históricos, selecionados de um acervo técnico com mais de 500 veículos, com o objetivo de valorizar a cultura e a história do Brasil, especialmente durante o século 20, com foco na temática automobilística.
Distribuído em dois amplos andares repletos de história e veículos impressionantes, o museu é um verdadeiro deleite. No térreo, estão dispostas nove salas temáticas, incluindo Carros Governamentais, História do Automobilismo Brasileiro e Visionários Brasileiros, como Amaral Gurgel e seus veículos inovadores para a época. Logo na entrada, uma “câmara de descompressão” prepara os visitantes para a experiência que os aguarda. A primeira impressão é impactante: uma sala monumental com paredes cobertas por folhagens de crochê, criadas por 200 mulheres do projeto social Proeza, do Distrito Federal. Ao alto, um Brasinca Uirapuru 1964 está pintado com temas indígenas. Essa instalação ilustra o compromisso do Carde em apresentar o passado com um olhar voltado à sustentabilidade e à preservação do planeta.
Luiz Goshima, idealizador do projeto e diretor-executivo do museu, além de conselheiro e membro honorário da Fundação Lia Maria Aguiar, diz que “foi feita uma curadoria meticulosa em todos os sentidos”. “Com o Carde, queremos que objetivos que muitas vezes estão distantes de grande parte da população, como o automóvel raro, a obra de arte e até mesmo a história, agora estejam acessíveis.”
Cada ambiente (salas) foi pensado com uma equipe de peso: o museu contou com a consultoria de história de Heloísa Murgel Starling e do Projeto República da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ela é professora titular. Heloísa trabalhou com uma equipe de 15 historiadores durante um ano para alcançar o resultado esperado da pesquisa. O design inédito do Carde foi criado pelo artista visual e cenógrafo Gringo Cardia, que acumula ainda os cargos de arquiteto, diretor de vídeo, teatro, ópera e moda. “A ligação sentimental e histórica com o automóvel é o grande diferencial do Carde. A emoção é a forma mais eficiente de transmissão de cultura”, diz Cardia. Outros nome tiveram participação no projeto, o professor Felipe Scovino (UFRJ) fez a curadoria de arte. O professor Carlos Castilho (Faap) ficou com as pesquisas de design do século 20. E João Pedro Gazineu teve como responsabilidade a curadoria da história automotiva. Ademais, a pesquisa contou com participação de três indígenas – Daiara Tukano, Caripoune Yermollay e Rudá Jenipapo.
“O automóvel aperta o gatilho da imaginação e o historiador vai buscar os livros e documentos para fazer essa conexão histórica. Eu nunca tinha pensado que a história do automóvel seria capaz de contar e puxar os fios da história do Brasil em diferentes camadas. Ele tanto conta sobre os grandes momentos históricos e acontecimentos, onde nós sempre vamos encontrar um automóvel, como também sobre a camada afetiva do povo brasileiro, quando o carro se encontra com as pessoas comuns e suas histórias de vida”, explica Heloísa.
Além dos modelos raros que são como um presente para os olhos dos amantes de veículos, todo o processo de visitação é interativo, e com jovens monitores treinados para dar toda e qualquer explicação a respeito da exposição. São jovens que se formaram no projeto de educação da FLMA, e que atuam como pilares da mostra. Ademais, a fundação ainda prepara jovens restauradores de carros antigos. O curso envolve todas as necessidades para um restaurador de veículos antigos: conhecimento sobre as particularidades dos automóveis, marcas, motores e tecnologias, mecânica, funilaria, pintura, tapeçaria, parte elétrica. A missão dos 25 estudantes foi restaurar um Ford T, de 1923, que será exposto com destaque no Carde. “A formação de jovens no ofício de restaurador de veículos antigos gerará profissionais que terão um amplo campo de trabalho, uma vez que a área é extremamente carente de profissionais qualificados”, explica Goshima.
Para os entusiasta do automobilismo, o museu ainda oferece uma atração especial: a oportunidade de pilotar, por meio de um simulador, uma Ferrari Testarossa toda restaurada. O simulador permite uma experiência real de controle e velocidade, transportando seu “piloto” ao mundo dos superesportivos.
O local ainda conta com toda a infraestrutura necessária para os visitantes, com estacionamento, área verde, cafeteria, acessibilidade, espaço família, playground temático e lojinha. Vale demais a visita.
Carde: rua Benedito Olímpio Miranda 280, Alto da Boa Vista, Campos do Jordão (SP). De quinta a domingo, das 10h às 18h. R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada); estudantes têm direito à gratuidade.
A jornalista Ligia Kas viajou a convite da Fundação Lia Maria Aguiar.