Nara Roesler São Paulo apresenta a partir desta quinta-feira (31.10), às 18h, a exposição “Thiago Barbalho – Segredos e feitiços”, primeira individual do artista na cidade, com curadoria de Catarina Duncan. Tendo o desenho como principal eixo de sua poética, Barbalho iniciou sua trajetória profissional como escritor e “o desenho veio do processo de insatisfação com a escrita, do esgarçamento dessa relação”, conta o artista. Ele percebeu que por meio de grafismos e signos, muitas vezes realizados acidentalmente, era possível refletir sobre a enxurrada de imagens e estímulos visuais com os quais deparamos cotidianamente, das mais diversas naturezas, de símbolos religiosos a anúncios publicitários, “que nos rodeiam, provocam fascínio e encantamento em quem os observa, como se nos enfeitiçassem”.
Assim, em seus trabalhos, uma profusão de elementos orgânicos, religiosos e ancestrais de colorido intenso estão diluídos em meio à grande quantidade de detalhes presentes nas composições, onde, por vezes, figura e fundo se confundem. A cultura popular nordestina, personagens de desenhos animados, assim como signos e símbolos advindos do universo do comércio e da cultura de massa, uma profusão de referências de diferentes esferas, estão conjugados em seu trabalho.
Outro dado importante é a gestualidade e as diferentes maneiras com que o artista manipula o lápis de cor, o pastel, as canetas e marcadores, bem como a tinta acrílica e óleo.
A mostra reúne diferentes formatos de trabalhos, desde obras de grandes dimensões até desenhos feitos em pequenos cadernos. Nestes desenhos, executados em suportes de pequenos formatos, o elemento gestual de sua produção fica particularmente evidente, sobretudo pelo fato desse tipo de trabalho acabar servindo de elemento de elaboração para produções de maiores dimensões, reforçando seu caráter experimental.
Da mesma forma como o gesto de desenhar rompeu os limites das palavras para Barbalho, o artista entende que a iniciativa de trabalhar com a tridimensionalidade das esculturas expande a própria linguagem do desenho, da forma como são concebidas por ele. Em diferentes dimensões, as esculturas produzidas principalmente com impressão 3D e resina, adensam os símbolos já presentes nas obras bidimensionais do artista e os conectam. “Elas me fazem pensar em emojis e em imagens de deidades perdidas numa floresta, pokémons, cactos alienígenas, oferendas de civilizações, símbolos que em numa conversa de Whatsapp nos permitem abandonar palavras”, completa o artista.
Outro destaque da exposição é um conjunto de trabalhos realizados por ele para a exposição “Cacimba Nova”, em abril deste ano, em Jardim do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte, terra natal de sua mãe. Nessas obras, Barbalho revisita elementos característicos da cultura da região, como pinturas rupestres presentes nas cavernas, a paisagem semiárida e técnicas de produção têxtil artesanal. Também parte desse conjunto é a tapeçaria “Futuro” (2024), desenvolvida com o coletivo Flor de Kantuta, formado por mulheres tecelãs bolivianas migradas para São Paulo. “Quis reunir variadas referências, desde os açudes e rios da nossa terra, até o artesanato potiguar, com suas tapeçarias e colchas. Mas quis fugir dos clichês associados à arte nordestina em geral”, diz .
Nara Roesler SP – Avenida Europa, 655, Jardim Europa, São Paulo, SP.