Num cenário de fim de mundo, dois arqueólogos descobrem uma foto que registra pessoas praticando o extinto gesto de abraçar e, quebrando protocolos, sentem a necessidade de darem um abraço. Assim – com o perdão pelo leve spoiler – apresenta-se ao público “Decameron”, a nova peça dos Parlapatões, fruto de processo criativo colaborativo e fluido. Com dramaturgia de Hugo Possolo e dramaturgismo de Camila Turim, o espetáculo costura histórias e contextos, passado, presente e futuro, com uma linha do tempo ágil, sagaz, cômica, reflexiva e contemporânea, que atualiza o cultuado frescor da assinatura do grupo teatral. A montagem, que celebra 33 anos da trajetória prolífica e criativa do Parlapatões, está em cartaz no Espaço Parlapatões, às sextas, sábados e domingos, até 16 de junho, com ingressos a preços populares.
Inspirada na obra “O Decameron”, de Giovanni Boccaccio, a peça mescla farsas medievais com a linguagem festiva do teatro de revista, unindo novelas de Boccaccio e histórias contemporâneas. Ao abordar momentos históricos distintos sob o recorte de duas pandemias, a peste Bubônica (século 14) e a recente pandemia de Covid, “Decameron” revela o quão obsoletas podem ser as narrativas e estratégias humanas aplicadas ainda hoje, especialmente em situações limite. O narrador Boccacião faz a transição cênica entre os tempos até a chegada da era das redes não sociais, entre lives, podcasts, reuniões virtuais e TVs. “São histórias que refletem o mundo e o futuro a partir de nossas contradições, especialmente, as brasileiras. Ainda somos um país medieval?”, questiona Possolo.
O elenco, que performa criativamente com a dramaturgia, conta com Andreas Mendes, Camila Turim, Fernanda Cunha, Hugo Possolo, Leandro Vieira, Mawusi Tulani, Raul Barretto e Tadeu Pinheiro. A peça conta com textos de diversos autores contemporâneos, como Airton Nascimento, Andreas Mendes, Avelino Alves, Camila Turim, Hugo Possolo, Jo Bilac, Leandro Vieira, Luh Mazza, Marcelo Oriani, Mawusi Tulani, Michelle Ferreira e Nado Cappucci.
“Decameron”, a peça, nasce das experiências do projeto Ocupação Decameron, que envolveu mais de 120 artistas, entre diretores, dramaturgos, bandas musicais e grupos parceiros. Durante dez dias foram feitas dez apresentações nas ruas de São Paulo, ocupando a Praça Roosevelt, o Parque Augusta e as escadarias do Theatro Municipal. Dessas apresentações foram escolhidas os textos e cenas que compõem o espetáculo. A peça sintetiza antropofagicamente a pesquisa e todas as experimentações da “Ocupação Decameron” e inclui visões trocadas na interlocução com os temas, grupos e artistas convidados.
Os dez dias da “Ocupação Decameron” representaram um investimento concreto na relação histórica dos Parlapatões com o teatro de rua e com o entorno de sua sede, reafirmando o significado democrático dos espaços públicos da cidade. “Decameron”, a peça, é uma realização do grupo por meio da 39ª edição do Programa de Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo.
Espaço Parlapatões -Praça Roosevelt, 158, Centro, SP.