Quando é para ser, não há nada que possa mudar o rumo das coisas, e assim foi para a soteropolitana Jessica Marques, 24 anos, que está brilhando na série “Justiça 2” (Globoplay) com a personagem Larissa, que faz para romântica com Juan Paiva, que interpreta o motoqueiro Balthazar. Ela também é motoqueira, e se inspirou na doçura e na delicadeza para criar sua personagem.
De Salvador, já formada em teatro pela Ufba (Universidade Federal da Bahia), Jessica se mandou sozinha para São Paulo para fazer seu mestrado em audiovisual na Unesp (Universidade Estadual Paulista) e para conquistar o que mais queria: interpretar. “Eu vim com a cara e a coragem para fazer acontecer”, diz. Mas quem pensa que ela apenas se arriscou na vida de atriz, se engana. Esforçada e dedicada, ela estudou muito até chegar ao ponto em que está hoje. Jessica entrou na faculdade de artes e fez vários cursos extracurriculares apostando na formação. “Fiz cursos de dança e de técnica vocal, para aprender a projetar a voz, coisa que eu nem sabia o que era.”
Pronta para realmente fazer acontecer, ela também aposta também na vida acadêmica, sonho da mãe, que perdeu há cerca de três anos. Hoje, a família, pai e irmão mais velho, vivem em Salvador, enquanto ela desbrava SP com ânsia de trabalhar cada vez mais.
Leia a seguir papo que Jessica teve com CHNews via Zoom.
Me conta como tudo começou, como você se torna atriz?
Eu comecei na interpretação por acaso, minha professora de biologia me ajudou muito nesse processo, eu estava no terceiro ano do Ensino Médio e estava muito confusa sobre o que eu iria fazer, porque já ia prestar o Enem. Eu pensava em um curso que me desse dinheiro e estabilidade, mas não estava pensando no que gostava. Minha professora de biologia disse que eu tinha veia para arte e devia prestar algo neste sentido. Acabei tentando nutrição e artes, e passei em artes, era para ser. Fiz um curso no Sesc, com o professor Gil Santana, e logo depois fui para a faculdade. Fui crescendo com a interpretação na faculdade, aprendendo as coisas, foi muito bom.
Você estudou muito, fez cursos extracurriculares de dança e tal. Apostou muito na sua formação, não?
Eu tive uma professora na faculdade que sempre dizia como era importante a gente ter formação em outras áreas, para se tornar um bom ator. Então estudei bastante. Fiz cursos de dança e de técnica vocal, para aprender a projetar a voz, coisa que eu nem sabia o que era, e protagonismo de pessoas negras. Eu aproveitei muito que a faculdade federal te proporciona isso, de você poder pegar outras matérias e estudar.
Acha que a presença negra no audiovisual melhorou?
Melhorou, mas a gente ainda tem muito a avançar, porque sinto que a gente ainda não tem o protagonismo de pessoas negras, mas estamos caminhando para isso, de ter protagonismo, com pessoas negras retintas e não retintas. Estamos vendo uma mudança acontecer real.
Como surgiu a oportunidade de gravar “Justiça 2”?
A história de “Justiça 2” é um pouco complicada, mas deu certo no final. Eu fiz o teste para fazer a Sandra, que é outra personagem e foi feita de forma magistral pela Gi Fernandes. E acabou que me colocaram para ser a Larissa, que era outro perfil completamente diferente, ela não era uma negra retinta, era uma negra de pele mais clara, mas fizemos. E fizemos o teste presencial, quando contracenei com Juan Paiva para ver se rolava química, e deu tudo certo.
É sua primeira série? Como tem sentido a repercussão do público com sua personagem?
Sim, é minha primeira série. Eu tenho recebido muitos comentários nas redes sociais, e as pessoas estão gostando muito, apesar de ser um casal que sofre um bocado, eles estão juntos para o que der e vier. O Balthazar, que é feito pelo Juan Paiva, é um cara que vai sofrer muitas injustiças, ele é preso de forma injusta também, e espero que esse amor deles supere tudo.
Teve alguma dificuldade nas gravações, já que se trata de um case de injustiça na prisão de Balthazar?
Para mim, o primeiro episódio quando levam o Balthazar foi muito forte. Eu tenho um irmão negro retinto, que a minha mãe sempre dizia para ele quando saía de casa que levasse documento, tudo certinho, para não ocorrer nada de ruim com ele. Eu tinha um receio tão grande de ele sair na rua, que quando gravamos fiquei imaginando se aquilo que acontece com o Balthazar rolasse com o meu irmão, com alguém da minha família, o que eu ia fazer? Ele [Balthazar] foi preso injustamente, que é a realidade de muitas pessoas, sobretudo as negras, e eu não tinha nada a fazer. Só assisti àquilo com dor no coração. Essa cena em específico me tocou muito.
E como você criou sua personagem?
A gente teve uma preparação muito boa como Jeferson Miranda. Como a Larissa é uma motoqueira, não queríamos criar uma personagem estereotipada, mais masculina e tal. Eu queria ir para outro lugar, que não fosse tão caricato, que ela tivesse uma fragilidade, momentos de fraqueza, porque é ela quem ajuda o Balthazar em tudo. Eu pensei em uma Larissa com esse ímpeto de fazer as coisas, mas, ao mesmo tempo, alguém que é uma menina que também precisa ser amada, afinal, quem cuida dela? Foi nesse sentido que a Larissa surgiu.
E o filme “Insubmissas”, como é sua personagem? É seu primeiro longa?
Sim, é meu primeiro filme, tudo está sendo o primeiro. Fiz no final do ano passado, depois de gravar “Justiça 2”. Gravei um dos episódios, com direção de Tais AmorDivino, o que foi incrível, “Duas Noivas”. O episódio conta a história de duas noivas, que o público vai sentir o que são, se um casal, se amigas, ou se são a mesma pessoa em épocas diferentes. Fala muito de amor tóxico, que não é amor, fala sobre mulheres negras, sobre abuso, esse casamento forçado, e os danos e impactos que isso causa nas pessoas. Eu não tinha voz na cena, então tínhamos que interpretar por meio da voz em off, sem dizer uma palavra, mas interpretando com sincronicidade. Foi muito gostoso de fazer.
E tem uma data de estreia?
Não, ainda não tem nada, estou ansiosa, mas deve sair ainda este ano.
Tem vontade de fazer novela na TV aberta?
Sim, tenho muita vontade de fazer TV aberta, uma novela, porque o audiovisual é muito amplo. Eu venho do teatro, então quando fui gravar a série, eu estava muito preocupada com tudo, com a cenas, o microfone, era tudo diferente. Também teve a questão de ter de ir para Brasília para gravar e voltar, e depois retornava. Acho que em uma novela as coisas serão mais fluidas, e quem não quer fazer uma novela (risos)?
Quais são os próximos passos?
Eu estou fazendo agora um mestrado de audiovisual na Unesp, porque também gosto muito desse lado acadêmico, foi algo que a minha mãe sempre quis para mim, ela faleceu há cerca de três anos. Ela prezava muito essa coisa acadêmica, e eu também prezo, mas estou me desenvolvendo como atriz, estudando, sempre buscando crescer ainda mais.
Você gostaria de dar aulas?
Eu já dei aulas, fiz licenciatura em teatro, dei aulas para crianças, adolescente, gente maior que eu em altura, sempre levando o teatro para a formação deles. Eu entrei na faculdade cedo, com 17 anos, e com 19 já estava dando aulas para pessoas quase com a mesma idade que eu, sobretudo ensinar a galera periférica.